Resumão: Congresso Virtual da UFBA debate artes e saúde mental na pandemia
Por Geovana Oliveira e Laiz Menezes*
A segunda semana do Congresso Virtual da UFBA debateu diversos temas que estão relacionados ao contexto atual, a pandemia do coronavírus. A Agenda Arte e Cultura acompanhou alguns desses debates, confira! Para relembrar a primeira semana, clique aqui!
Teatro na quarentena
Qual lugar o teatro ocupa no contexto da quarentena? Foi o que os agentes culturais Duda Woyda, Josué Leite, Paulo Garcia e Rafael Medrado discutiram na mesa “Teatro, Contemporaneidade e Políticas Culturais em tempo de pandemia”, nessa segunda-feira (25). Mediados pelo professor da UFBA Djalma Thürler, cada convidado teve cerca de 8 minutos para falar, na sala E, antes da rodada de perguntas feitas no Youtube e no Facebook.
O professor de comunicação da UFBA, Josué Leite, abriu o debate com uma reflexão sobre as políticas culturais a partir de um conceito mais amplo de cultura, que não se centra apenas nas belas artes. Em sua fala, abordou as relações entre economia, política e cultura, assim como a relação entre vida, pandemia e arte.
O ator Duda Woyda apontou o descaso crescente do governo com a cultura desde 2016 e a condição precária de muitos artistas durante a quarentena. Depois de relatar que alguns deles chegaram a ser despejados de suas casas por causa da situação financeira, concluiu com uma fala do ator Lelo Filho: “’O artista terá que se reinventar’. Essa frase é muito romântica, muito bonita e muito bacana, mas não reflete a realidade. Antes de eu me reinventar, eu preciso sobreviver”.
Em seguida, o ator e roteirista Rafael Medrado discorreu sobre o teatro contemporâneo e como ele se relaciona com as dinâmicas sociais. Também fez considerações sobre a reinvenção do teatro, indicando os livros “O teatro é necessário?”, do autor Denis Guénoun e “A cruel pedagogia do vírus”, do escritor Boaventura de Souza Santos.
Entre as falas de Rafael Medrado, que enfrentou problemas técnicos, Paulo Garcia enfocou o confinamento. Após apontar a intensificação da violência contra a mulher, gays, transgêneros e travestis na quarentena, direcionou para a ação do teatro em relação a essas normatizações. Como exemplo, abordou montagens do Ateliê Voador, companhia de teatro à qual pertence.
Por fim, Thürler encerrou a discussão de forma esperançosa: “O teatro vai se nutrir de tudo o que tá acontecendo e transformar em alguma força que a gente vai poder acompanhar quando os teatros voltarem a abrir”.
Saúde mental dos estudantes
O debate “Atenção à saúde mental dos estudantes em tempos de isolamento social: desafios e estratégias”, ocorrido na tarde do dia 27, foi mediado pela Letícia Vasconcellos, psicóloga do Núcleo de Apoio Psicopedagógico da Faculdade de Medicina da Bahia (Fameb-Ufba). A transmissão ao vivo teve cerca de 100 espectadores simultâneos e os participantes apresentaram os seus projetos que prestam auxílio para as pessoas, em maioria universitários, na quarentena.
O psiquiatra Júlio Silveira, professor na Faculdade Federal de Medicina em Macaé, no Rio de Janeiro, abriu o debate. Ele falou da importância de dar atenção ao psicossocial na formação dos estudantes da área e fez uma introdução sobre os projetos que participa, dando a palavra para o docente substituto da mesma universidade e graduado em psicologia pela Ufba Ueslei Solaterrar, que falou como funcionam essas iniciativas. Segundo ele, são três propostas: a primeiro é a “Encontros Onlines: Saúde Mental em Tempos de Pandemia”, que presta auxílio online uma vez por semana para esses alunos do curso. A segunda, que eles estão investindo agora, é a ideia de criar uma central de teleatendimento para garantir informação e orientação, feita pelos graduandos de medicina em maior parte, a população de Macaé. O último projeto é o “Cultivamos Saúde Mental”, um espaço para compartilhar formas de expressão de arte e cultura e é aberto para todos. Ueslei também contou que a quarentena tem um impacto positivo na vida de alguns jovens, que é poder se afastar um pouco de toda pressão do curso, das cobranças e da rotina exaustiva.
A professora Lívia Vasconcellos, representando o Núcleo de Assistência Estudantil e Ações Afirmativas (Noae), do Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação da Ufba (Icti), contou que eles fizeram um questionário para que os graduandos colocassem suas aflições e, a partir disso, eles vêm publicando mensagens com orientações pelo Instagram para que esses jovens possam ser ajudados e também entrem em contato com eles caso necessitem de assistência. “O que embasa nosso trabalho é dizer: estamos aqui! Somos uma base segura para esses estudantes”, afirma. Já a mediadora da mesa, Letícia Vasconcelos, explicou como funciona o apoio psicopedagógico da Fameb. Eles contam com 12 psicólogos e fazem uma escuta acolhedora que dá atenção ao bem estar psíquico, com uma oferta de atendimento online. Eles também têm o projeto “A Arte como Encontro”, em que as pessoas mandam vídeos e são postados no Instagram Mural Digital para que ocorra uma interação.
A assistente social do Núcleo de Apoio Pedagógico e Psicossocial (Napp) da escola de enfermagem da Ufba, Andrea Sestelo, explicou que o acolhimento à comunidade universitária é feito pelo WhatsApp ou e-mail, com o apoio do PsiU da Ufba. Ela também destacou a importância de prestar assistência aos docentes e técnicos-administrativos. Já a pedagoga do Napp, Carolina de Melo, afirmou que entrou em contato com os representantes das turmas para avisar que eles estavam realizando o agendamento para que os alunos fossem atendidos de forma remota. Entre as atividades que eles realizam, Carolina contou que ajuda essas pessoas a criarem um cronograma para a realização de suas tarefas, respeitando as singularidades do momento de isolamento social.
*voluntárias da Agenda Arte e Cultura