Sarau de poesia homoerótica reúne poetas baianos

Evento aconteceu em meio à Semana da Diversidade, em Salvador. 

A experiência homossexual está presente em todas as épocas da literatura ocidental, compreendendo desde a exaltação greco-latina da beleza e da juventude até a carga simbólica de subversão presente em Sade e, a partir do século XIX, a busca de uma inacessível vivência individual presente nas obras de Walt Whitman, Oscar Wilde, André Gide, Virginia Woolf, Marcel Proust e dos poetas da geração beat. [Saulo Lemos, jornalista e mestrando em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Ceará (UFC)]

*Por Virgínia Andrade

Em ritmo de bate-papo aconteceu, na noite da última sexta-feira (6), no Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAFRO), Largo 2 de Julho, o sarau “Poesia homoerótica de três poetas baianos”, embora presentes só houvessem dois. Com abertura do antropólogo, pesquisador e ativista da causa LGBT, Luiz Mott, e moderação do professor Marielson Carvalho, o evento recebeu os poetas Luís Antônio Cajazeira Ramos e Marcus Vinicius Rodrigues, que não se abstiveram de recitar seus poemas para os presentes, apesar da escassez de público.

Foto: Vanice da Mata
Foto: Vanice da Mata

Ainda que raros tanto na poética de Luís Antônio quanto na de Marcus Vinicius, as poesias homoeróticas existem e algumas delas foram recitadas durante o sarau. “Soneto Voraz”, “Chicotinho Queimado” e “Agonia e Êxtase” do primeiro poeta; e “Poesia Contra o Silêncio”, “A Casa de Eros” e “Eucaristia” de Rodrigues, são exemplos. Além desses, foram declamados outros que, embora não fossem homoeróticos, tinham seu eixo temático centrado na questão homossexual, como “Esconde-Esconde” e “Fio de SIDA”, ambos de Cajazeira e respectivamente referentes à descoberta da sexualidade na infância e à AIDS. Ou como a série escrita por Marcus, “Poemas Adulterinos”, que trata de uma relação amorosa adúltera.

Dissonante de Rodrigues, detentor de textos mais sutis e delicados, Cajazeira é adepto de um tipo de escrita subjetivamente crua e direta. Escreveu seu primeiro poema em 1979, aos 26 anos, mas foi o segundo, em 82, o primeiro homoerótico – para o poeta, o termo citado não se configura enquanto gênero literário, e sim como qualificação ou adjetivo de um tipo específico de poema. Incisivo, Luís Antônio deixou clara sua insatisfação em ser chamado de “gay” – termo relacionado à política, oriundo do império anglo-saxão – e pontuou: “sou viado, elipse do prefixo de transviado, aquele que se opõe aos padrões comportamentais instituídos”.

Marcus Vinícius e Mott. Foto: Vanice da Mata
Marcus Vinícius e Mott.
Foto: Vanice da Mata

Parte da programação da Semana da Diversidade, o projeto foi idealizado após a edição de junho do projeto “Leituras Públicas”, da Fundação Pedro Calmon, que contou com a presença de ambos os escritores convidados do sarau homoerótico. Além da leitura de poesias, discutiu-se o homoerotismo desde a sua terminologia até a identidade poética dos escritores do gênero, concluindo que esta não tem necessariamente relação com o eu-lírico do texto. Ou seja, nem sempre quem escreve sobre a temática gay é homossexual, assim como um eu-lírico homossexual não faz do poema homoerótico.

 

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