Orgânico x agroecológico: o que é vendido nas feirinhas da UFBA?
No campus, as feirinhas agroecológicas aproximam a sociedade da universidade, numa troca produtiva e benéfica
Por: Alana Bittencourt
A busca por produtos orgânicos e agroecológicos tem crescido cada vez mais, ganhando espaço nas discussões sobre alimentação saudável e harmonia com o meio ambiente. Os benefícios e a sustentabilidade desses produtos também estão em pauta dentro da universidade através de teoria e prática, como exemplo, as duas feiras agroecológicas que funcionam no Campus de Ondina. Mas você sabe a diferença entre o orgânico e o agroecológico?
A diferença significativa entre os dois é a forma de produção e todo processo envolvido. A forma de cultivo orgânico, na maioria das vezes, é a monocultura, que apesar de não conter produtos químicos sintéticos ou alteração genética, pode causar consequências negativas tanto socialmente, quanto ecologicamente.
Nesta forma de produção, o solo é prejudicado através da interrupção do processo natural de reciclagem dos nutrientes, tornando-o pobre e diminuindo sua produtividade, o aumento de insetos no local, entre outros. Além disso, reduz a contratação de mão de obra regional, podendo contribuir para o aumento do êxodo rural.
“Nesse caso, não há uma valorização da biodiversidade. Quando há produção de uma só coisa, o solo fica pobre, não dá o mesmo retorno para o meio ambiente. A competição entre as plantas faz com que o solo fique enriquecido e a planta também, em valor nutricional”, explica Débora Câmara, nutricionista formada pela UNEB e colaboradora da feirinha na UFBA.
Já na produção agroecológica, há uma preocupação com a sustentabilidade ecológica, econômica, social e cultural. Estes produtos trazem benefícios não somente para a saúde dos consumidores, mas também, para o meio ambiente e para todos os envolvidos na produção, por tratar de questões sociais. Essa forma de cultivo possibilita a renovação do solo, facilita a reciclagem de nutrientes do solo e mantém a biodiversidade na formação do solo.
“Agroecológico quer dizer que toda produção foi desenvolvida de forma harmônica com o meio ambiente, de forma sustentável. E também envolve outras questões sociais, como de gênero, raça e cultura”, acrescenta Débora.
Produtos orgânicos agroecológicos são acessíveis?
Este tipo de produto geralmente é comercializado em locais que cobram um valor muito alto, o que impede que a população de baixa renda os consuma. Nas feiras organizadas por coletivos, famílias e movimentos, o custo dos alimentos tendem a ser mais baratos, mas ainda sim, não são tão acessíveis. Segundo os feirantes, esses valores são justificados pela falta de capacitação, divulgação e apoio logístico, aos pequenos produtores.
Para Hale Aytac, professora da Universidade e consumidora, comprar produtos de feiras é uma forma de valorizar a produção dos pequenos produtores, a agricultura familiar, as cooperativas e todo processo envolvido na elaboração de produtos que não são somente orgânicos, mas também agroecológicos, sem os chamados defensivos agrícolas.
“Tenho um filho de 1 ano e me preocupo com a alimentação dele. Não gosto de comprar orgânicos no mercado, dou preferência aos alimentos das feirinhas, porque aqui você vê o produtor e o produto. Então eu compro por mim, pelo ambiente e para valorizar o trabalho dessas pessoas. Eu sei o quanto é difícil cultivar sem o uso de agrotóxicos”, argumentou.
Feirinhas na UFBA
No campus de Ondina, as duas feiras funcionam durante a semana. A Feira Agroecológica da Reforma Agrária acontece quinzenalmente, às quartas, das 7 às 15h, ao lado do Instituto de Biologia, e a Feira Agroecológica da UFBA funciona às sextas, das 7 às 13h, no mesmo lugar.
O projeto da Feira Agroecológica da UFBA surgiu em 2016, numa disciplina didática do Instituto de Biologia, como uma extensão, que se dá quando a universidade desenvolve atividades e programas para benefício da sociedade. Os estudantes também fazem pesquisa e atuam em campo junto com os agricultores, acompanhando as práticas agrícolas.
A Feira Agroecológica da Reforma surgiu em 2014, inserida na agenda da I Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária na UFBA, sendo um instrumento para inserir as pautas da Reforma Agrária e Agroecologia na Universidade e desde então, passou a ocorrer quinzenalmente às quartas-feiras.
Atualmente, as feiras atendem a demanda crescente da população em geral por uma alimentação saudável, com uma produção sustentável.