‘Modernidade líquida não se aplica mais à sociedade atual’, defende psicanalista na UFBA
Gustavo Dessal ministrou palestra na UFBA e lançou o seu livro “O Retorno do Pêndulo”, em parceria com Zygmunt Bauman
Por Gabriel Moura
A “modernidade líquida”, defendida pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman, está chegando ao fim. A conclusão é do psicanalista argentino Gustavo Dessal. “Hoje no mundo se vê uma retomada destes valores e as eleições no Brasil são um grande exemplo”, defende.
O psicanalista ministrou uma palestra para um auditório lotado, na noite da última quarta-feira (26), no PAF 3, no campus de Ondina da UFBA. O evento aconteceu em homenagem aos 10 anos do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos (IHAC) e também teve a participação do diretor do instituto, o professor Messias Bandeira e da psicanalista Marcela Antelo.
Para Dessal, esta retomada da valorização da família e de ideologias se dá por causa do sentimento do medo. “Antigamente as pessoas abriam mão da sua segurança para lutar por liberdade. Hoje acontece o contrário. As pessoas aceitam deixar de ser livres para sentirem-se seguras”, defendeu.
No entanto, o psicanalista defende que esse “retorno à solidez” pode ser perigoso. “O fato das ideias estarem voltando a serem sólidas pode ser desastroso na mão de movimentos populistas”, alertou o psicanalista.
Junto com Bauman, Dessal escreveu o livro “O Retorno do Pêndulo”, para tratar dessa mudança de comportamento da sociedade. Para ele, esse sentimento começou a partir de dois momentos da história da humanidade: o 11 de Setembro e quando dois garotos de 10 anos sequestraram, torturaram e mataram um garoto de 2 anos em Liverpool, em 1993.
“Quando aconteceu esse lamentável episódio, morreu com ele o último ‘mito do Ocidente’ e valor moral inquebrável, a inocência infantil”, explica.
Parceria com Bauman
Ainda sobre o livro, Dessal lembrou sobre o processo de escrita. Segundo ele, todas as páginas foram escritas a partir de trocas de e-mails entre os dois, e eles nunca chegaram a se conhecer pessoalmente, o que gerou algumas situações curiosas. “Quando Zygmunt morreu, muitos jornalistas me ligaram pedindo para eu falar sobre ele, achando que eu era um grande amigo”, conta.
Apesar de não terem se conhecido pessoalmente, o psicanalista relembrou que Bauman foi pessoa extremamente generosa. “Ele confiou a mim, alguém que ele nunca conheceu pessoalmente, alguns textos inéditos dele, que estão presentes no livro”. A única exigência do polonês para que Gustavo lançasse um livro com os e-mails trocados entre eles era de que o argentino editasse tudo.