Nietzsche e Schopenhauer são tema de discussão na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas

Por João Bertonie

A história do Ocidente é a história do niilismo, isto é, do pessimismo em relação a tudo o que é terreno e da negação da vida. Este niilismo é condenado por Friedrich Nietzsche (1844 – 1900) em sua crítica ao pensamento do neokantiano Arthur Schopenhauer (1788 – 1860), ao passo em que profetiza um outro niilismo para um novo tempo.

O clássico embate entre os dois filósofos é o tema de “Labirintos do Nada: A Crítica de Nietzsche ao Niilismo de Schopenhauer”, livro do professor doutor Jarlee Oliveira Silva Salviano. A obra foi apresentada em um bate-papo, na última sexta-feira, 10, na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH/Ufba), no campus de São Lázaro. O evento marcou a terceira edição do Produto Interno Culto, projeto realizado pelo Programa de Educação Tutorial (PET) de Filosofia.

Professor do departamento de filosofia da universidade e tutor do PET, Jarlee Oliveira despertou seu interesse pelo trabalho de Schopenhauer já no final da graduação, na Universidade Federal de Goiás (UFG), em 1996. Nietzsche, porém, sempre foi um de seus objetos de estudo preferido. Em seu doutorado, na Universidade de São Paulo (USP), em 2007, ele conseguiu conjulgar “essas duas paixões”, apesar de ver sua tese limitada pelas “amarras da produção acadêmica”.

O professor, falando sobre seu trabalho, citou uma curiosa fala do próprio Nietzsche: “Quem quer mediar entre dois pensadores decididos mostra que é medíocre”. Trata-se de uma sutil ironia: o trabalho de Jarlee Oliveira é justamente intermediar as filosofias dos dois mais famosos autores alemães, Nietzsche e Schopenhauer. “Não há tributo maior que eu posso fazer a ele [Nietzsche] do que contradizê-lo”, defende-se a um grupo de cerca de vinte ouvintes, quase todos estudantes de filosofia.

O autor de “Labirintos do Nada”, de fato, chega a subverter as críticas feitas por Nietzsche a Schopenhauer: o primeiro ataca o “niilismo passivo” do segundo, atribuindo certa fraqueza no pessimismo incurável schopenhauriano, cuja única saída para a negação da vida e da vontade seria o suicídio. Jarlee Oliveira reflete que, neste aspecto, Nietzsche se vê numa posição equivocada: “A compaixão, defendida por Schopenhauer, é a luta do indivíduo contra a sua própria força de vontade; é uma luta interna da vontade contra si mesma”. Há, portanto, no ato da compaixão, um aumento da atividade da vontade, o que comprometeria a leitura feita por Nietzsche a Schopenhauer.

Jarlee Oliveira se dedicou mais a falar sobre a crítica nietzschiniana à ideia de compaixão defendida por Schopenhauer. Em sua concepção de existência, Nietzsche foi um feroz crítico de Charles Darwin (1809 – 1882), autor de “A Origem das Espécies” (1859), no que dizia respeito à noção de evolução do indivíduo baseada na mera adaptação. O filósofo acreditava que mais relevante do que a vontade de sobrevivência era a vontade de poder. Para ele, o desejo de ajudar o próximo significava um sentimento de dominação, uma “vontade inconsciente de poder”.

Após a exposição dos temas tratados na tese do professor, foi aberta uma discussão entre os presentes, mediada pelo petiano Felipe Santos.

Fotos: João Bertonie
Fotos: João Bertonie

PRODUTO INTERNO CULTO

A conversa sobre o trabalho do docente marcou a terceira edição do Produto Interno Culto, projeto desenvolvido pelo PET de Filosofia. O objetivo da atividade é apresentar à comunidade universitária a produção acadêmica e literária dos professores do departamento. A primeira edição foi realizada em dezembro do ano passado, com a discussão sobre o livro do professor Waldomiro J. Silva Filho, “Sem Ideias Claras e Distintas”.

“A gente tenta desenvolver um trabalho que não seja só voltado para estudantes de filosofia, mas para todos que se interessem pelo assunto”, afirma a petiana Luciana Mota. A estudante do sexto semestre lembra que a filosofia é algo que pode afetar a todo mundo, não apenas aos alunos da FFCH, tornando importante a abertura destes eventos a um público mais amplo.

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