Mudanças na representação social do negro em livros didáticos são abordadas em livro
Por Vagner Campos*
O ambiente escolar, bem como toda a sociedade brasileira, por muito tempo se encontrou numa realidade em que as diferenças étnico-culturais não eram respeitadas, difundindo, muitas vezes, preconceitos e práticas veladas de racismo. No entanto, nas últimas décadas, estudos mostram que esse quadro vem mudando paulatinamente.
Dentre esses estudos está a pesquisa intitulada As Transformações da Representação Social do Negro no Livro Didático e seus Determinantes, da pedagoga, mestra e doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), Ana Célia da Silva. Proeminente no tema, Ana Célia é professora do departamento de Educação da Universidade Estadual da Bahia (Uneb). Ela lançou, na quarta-feira (24), no Centro de Estudos Afro-Orientais da Ufba (Ceafro), o livro A Representação Social do Negro no Livro Didático: o que mudou? Por que mudou?, publicado pela Editora da Universidade Federal da Bahia (Edufba).
Autora de duas outras obras relacionadas – A Discriminação do Negro no Livro Didático e A transformação da Representação Social do Negro no Livro Didático e seus Determinantes, Ana Célia na sua mais recente obra busca investigar até que ponto já existe, no que tange à representação do negro, uma transformação e os fatores que a determinaram.
Segundo o livro, os resultados dessa investigação evidenciaram a existência de mudanças significativas na representação social do negro nos livros didáticos de Língua Portuguesa de ensino fundamental. Ana Célia afirma ainda em sua obra que essas mudanças podem contribuir para a construção da autoestima da criança negra, bem como para o reconhecimento e respeito do negro por parte dos indivíduos de outras etnias.
Para a autora, os aspectos determinantes para que ocorressem as mudanças graduais da representação do negro no livro didático decorrem da “própria convivência entre os autores dos textos e ilustrações dos livros didáticos com pessoas de outras etnias”, diz autora.
Ainda para a autora, o conhecimento do processo histórico, cultural e civilizatório passou a ser mais evidente em outros meios e foi fator fundamental, sem contar com as políticas implantadas, como a lei 10.3393, além da Constituição Cidadã e as determinações editoriais que passou a proibir a veiculação de estereótipos nas publicações. “A consciência que eles tiveram de sua própria origem, o cotidiano, além da mídia, a família e o próprio movimento negro, foram algumas das motivações para a mudança desse panorama”, completa Ana Célia.
Também estiveram presentes no lançamento, a intelectual e ativista do Movimento Negro, Makota Valdina Pinto; a socióloga Vilma Reis, a diretora da Edufba Flávia Garcia Rosa; o professor da Faculdade de Comunicação da Ufba, Fernando Conceição; o escritor Jaime Sodré, entre outras personalidades, acadêmicos e estudantes da Ufba e Uneb, interessados na obra da autora e professora baiana.
*Estudante de Produção Cultural da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom