Ponte entre culturas marca comemorações de aniversário da Escola de Música
Por Carla Letícia Oliveira
O grupo de música espanhola La Folia, que trabalha há 37 anos com a reafirmação da identidade cultural de sua nação por meio da música e da arte, destaca as razões pelas quais o brasileiro também deve explorar sua história e repertório nas produções artísticas. Participando durante essa semana de concertos e mesas redondas voltados para a comunidade acadêmica e baiana em Salvador, como parte das atividades de comemoração dos 60 anos da Escola de Música da UFBA, o grupo integrou a roda de conversa realizada na última segunda-feira, 10, na Fundação Casa de Jorge Amado, no Pelourinho.
Transformada em um encontro de amigos, a mesa redonda “Relações entre criação literária e musical” reuniu professores, artistas e um pequeno público no Café-Teatro Zélia Gattai. Trazendo as diversas formas de fazer arte como o assunto principal de uma conversa totalmente intimista e informal. O professor Aleilton Fonseca, escritor e membro da Academia de Letras da Bahia (ALB), iniciou a conversa destacando a pertinência do encontro e das reflexões acerca das relações de continuidade que surgem entre diferentes linguagens: o princípio de interatividade entre as artes. “Como separar poesia e música em Vinícius de Moraes, Chico Buarque de Holanda e Caetano Veloso?”, exemplifica ele, defendendo a interdependência entre variadas formas de expressão.
Teoria reafirmada na prática pela professora Zulema de La Cruz, pianista e compositora espanhola, que também integra o La Folia. Com diversos trabalhos e concertos realizados em Madrid, ela destacou não só o encontro que acontece nas artes, mas aquele que está sendo proporcionado entre Brasil e Espanha. “Estamos em um momento importante de troca entre culturas e felizes por estar aqui.”, disse ela.
Zulema enfatizou ainda a atuação do La Folia e sua caracterização artística como entidade promotora da música popular espanhola em território brasileiro/baiano. Grupo de ampla trajetória na música barroca, eles utilizam instrumentos de época e temas históricos, com ênfase no vocabulário hispânico e, especialmente, em discussões sociais. Ao exibir um vídeo de composição sua executada pela Orquestra da Comunidade de Madrid, ela lembrou: “Em nossas letras também falamos sobre guerras e violência, a maneira como cada ser humano atinge o outro e a importância disso na sociedade”.
O professor Antônio Moura, escritor e membro da Academia Brasileira de Letras, destacou a iniciativa do encontro e disse que as pontes de comunicação devem ser cada vez mais utilizadas.“Devemos repetir este tipo de atividade. Elas estreitam os laços entre nossos países e permitem à arte exercer o papel de comunicar”, finalizou. A mesa era composta ainda por outros membros do La Folia e Myrian Fraga, presidente da Fundação Casa de Jorge Amado e membro da ALB, moderadora do evento.
A mesa redonda fez parte das comemorações dos 60 anos da Escola de Música da UFBA. O La Folia encerra suas atividades em Salvador com o concerto “Agua y sueño”, no Museu de Arte Sacra da Igreja de Santa Teresa, na terça-feira, 11, às 19 horas.