24 horas de dança que abalaram a terra
Evento “24 horas de Dança na Terra” propôs e cumpriu programação que durou um dia com espetáculos, apresentações e oficinas
Por: Lucas Arraz
Uma fila que arrodeava o prédio da Escola de Dança se formou às 19h do último dia 30 para ver a primeira atração das “24 horas de Dança na terra”. Quem chegava ao evento, se organizava na fila para garantir ingressos para a última apresentação da temporada de “Cuspe, Paetê e Lantejoulas” do Grupo de Dança Contemporânea da UFBA (GDC). Enquanto esperavam ansiosas pela apresentação que lotaria o Salão do Movimento da Escola, o Centro Acadêmico dos cursos de Dança da UFBA, o InterAÇÃO, anunciava o começo da terceira edição da virada cultural realizada pela unidade.
Com gritos constantes de “Fora Temer” e elogios à Escola de Dança, direção e alunos do interAÇÃO destacaram a importância e magnitude de um evento que reuniria grupos, professores e alunos e criaria, ininterruptamente, 24 horas de celebração à arte no cenário político atual. “Essa Escola existe pelos alunos. Que vocês continuem ocupando esse espaço sempre que quiserem e na hora que quiserem”, destacou Dulce Tamara, diretora da Escola.
A maior dificuldade para a realização do evento, segundo Dulce, foi garantir profissionais de segurança durante todo o período: “Quando eu contei que teríamos 24 horas de atividades, me perguntaram se eu estava brincando”. Dulce não estava. Ao todo, mais de 10 grupos de dança se apresentaram no intervalo de sexta (30/09) a sábado (01/10), intercalando suas apresentações com oficinas, performances e refeições coletivas.
Quem acompanhou o evento não deixou a empolgação morrer durante as horas que se passavam. Benni Costello, aluno do B.I em Artes da UFBA, duvidou se teria fôlego para ficar as 24 horas, mas tinha na cabeça a ideia fixa de ver a apresentação do Grupo Malemolência e participar da oficina de Stiletto que aconteceu {as 8h da manhã do sábado. Entrevistado após a apresentação do Malemolência, Benni foi categórico: “Foi Bapho!”
“Quem dança precisa de muita energia”, garantiu dona Lijonete que trabalha há 7 anos em frente Escola vendendo seus salgados e ficou responsável por preparar o café da manhã coletivo realizado no sábado. A escolha da organização por Lijonete não foi ao acaso. “Eu conheço o que os estudantes daqui gostam. Esses meninos não comem fritura porque gostam de cuidar do corpo e saúde. Faço tudo no forno”. O marido e as filhas da comerciante ajudaram a preparar a mesa do café e ela, com sorriso no rosto confessou: “Eu nunca pude participar de um evento em Dança, essa foi minha primeira chance.”
AS APRESENTAÇÕES
As apresentações do evento se dividiram entre os espaços do prédio de Dança. No Salão do Movimento, o GDC apresentou pela última vez o seu “Cuspe”. Ao fim da apresentação, os dançarinos choravam enquanto recebiam abraços do público. Perguntada sobre o motivo da emoção, a dançarina do elenco, Jéssica Costa, 21, destacou que o espetáculo remonta muito das situações cotidianas que ela passa. “Falando sobre violência e erotismo, o espetáculo representa muito o cuspe que eu mesma queria dar”, contou.
No anfiteatro da unidade, os destaques ficaram por conta do “Da própria pele não há quem fuja” do ExperimentandoNús, que se apresentou no meio da madrugada de sexta para sábado e ampliou as discussões sobre corpo e gênero iniciadas pelo GDC. Mais cedo, a CIA Cenas e Bailados vindo de Camaçari mostrou seu “Suícidio Anacrônico”. O espetáculo coreografa e dá movimento a uma carta de suicídio de um jovem.
Fora do palco do anfiteatro, Paola Vásques apresentou “Lacrimosa” na entrada do prédio da Escola de Dança. Uma mistura de dança, canto e instalação arquitetônica. Com copos presos ao teto, o trabalho chamou atenção das pessoas que aguardavam na fila o começo da apresentação do GDC. Também longe dos palcos e de qualquer eletrônico que pudesse queimar com água, duas alunas da Escola de Dança com os rostos tapados criaram uma performance enigmática e surpresa com balões de água que rapidamente se transformou em uma guerra enxarcada na madrugada.