Agenda Arte e Cultura entrevista Flávia Rosa, diretora da EDUFBA
*Por Debora Rezende e Lorena Caliman
A Editora da Universidade Federal da Bahia (EDUFBA) existe há 20 anos e tem em sua coleção mais de 800 títulos publicados. Este equipamento cultural da Universidade é responsável por alimentar e incentivar a publicação das produções acadêmicas da instituição, além de permitir, também, que autores de fora da comunidade UFBA possam publicar seus livros. Confira entrevista da Agenda Arte e Cultura com a professora Flávia Rosa, diretora da EDUFBA, e saiba mais sobre essa instância que dá vazão a diversas publicações importantes para a ciência e a cultura brasileiras.
Agenda Arte e Cultura UFBA – Como e quando se deu a criação da EDUFBA?
Flávia Rosa – A denominação de editora é recente, completou 20 anos em 2013. Na realidade, a trajetória da Universidade na área editorial é de 1959. A UFBA já publicava não como editora, mas tinha um setor cultural que era responsável pela publicação. Eles publicavam inclusive uma revista de cultura da Universidade Federal da Bahia, que era a Universitas, e algumas coleções.
Aos poucos as coisas foram se estruturando; no período em que dr. Roberto Santos foi Reitor, ele criou um núcleo de textos didáticos, eram publicados livros já focando o público universitário. Existia também uma gráfica, que foi agregada ao setor de texto didático, e foi criado então o Centro Editorial e Didático, nos anos 1970. Nessa época se tinha gráfica, núcleo de publicações e de fato começou-se a publicar. Só que além de publicar, como havia uma gráfica, todo o material impresso da Universidade era feito por aqui, e as pessoas só faziam referência ao Centro Editorial como gráfica. Houve justamente uma necessidade de mudança até para designar melhor a atividade que era de fato exercida – que era uma atividade editorial. E a EDUFBA [que recebeu essa denominação em 1993] teve uma participação muito grande no movimento das Editoras Universitárias, nos anos 1980, na própria criação da Associação Brasileira das Editoras Unviersitárias, que foi um movimento que se iniciou aqui no Nordeste.
Agenda – Que demandas a Editora supre dentro da Universidade?
Flávia – Ela supre a demanda não só das publicações, dos livros avaliados pelo Conselho Editorial, que fazem parte da linha editorial, como também outros serviços que a gente termina prestando em função de termos um setor com estrutura com os designers. Eu destaco como um trabalho muito importante essa capacitação de alunos de vários cursos. Temos hoje 28 estagiários dos cursos de Letras, que fazem revisão de texto; de Biblioteconomia, que fazem a normalização; do curso de Jornalismo, que fazem a parte de comunicação, divulgação, juntamente com o pessoal de Produção Cultural. Temos também Secretariado e Desenho Industrial. A prática é super importante num lugar onde o caráter é ensinar.
Agenda – Como funcionam as publicações, tanto para quem é da UFBA como pra quem não é?
Flávia – Não há nenhuma limitação de que só pessoas da UFBA podem encaminhar originais, mas termina que o maior número são encaminhados de fato por pessoas que de alguma maneira estão vinculadas à UFBA, ou porque são professores, fazem parte de grupos de pesquisa, ou porque são pessoas que fizeram aqui o Doutorado, Mestrado ou estão fazendo e têm também algum vínculo. Mas tem também pessoas de outras instituições que nos encaminham. Estamos publicando cerca de 100, 110 livros por ano. É um processo muito grande e são materiais muito densos, pois a produção acadêmica tem geralmente grande número de páginas.
Agenda – Quais os temas, tipos de livros publicados pela Edufba?
Flávia – A gente não tem uma linha voltada para ficção, porque o objetivo primeiro da Edufba é a produção acadêmica da Universidade. Por outro lado, o texto ficcional é mais complicado para ser avaliado, por ser um processo mais criativo, a avaliação da pertinência e da qualidade disso é mais complicada. A gente tem refletido, até porque o prêmio Jabuti nosso foi com um texto de teatro, sobre o contexto em que produzimos. Nesse momento da entrega do prêmio eu refleti bastante que talvez, uma questão que me preocupa muito é uma inserção maior do trabalho da leitura no âmbito da universidade. Acho que a editora precisa exercer esse papel de fomentar a leitura no âmbito da instituição. Por quê não a gente criar uma coleção voltada à leitura, para que a gente possa doar uma parte desses livros para as Residências, para a Biblioteca, para as Escolas, uma proposta mais livre, voltada para a ficção.
E aí teria que se pensar em como iríamos estruturar isso, abordando, além da ficção, algumas outras temáticas que eu considero importantes numa linguagem mais leve, não numa linguagem acadêmica, mas numa linguagem que de fato a gente atingisse um público jovem e que despertasse o interesse pela leitura. E aí a gente tem por exemplo alguns professores que foram da UFBA que são poetas como Ruy Espinheira, como Florisvaldo, então quem sabe a gente poderia pensar em uma coleção com esses autores. Claro que isso é algo que a gente precisa discutir, amadurecer, ver quais seriam esses critérios, mas é um desejo nosso uma maior inserção no movimento de ampliar o número de leitores. E sabemos que para ampliar o número de leitores teríamos que ter outro tipo de abordagem que não é só através do livro acadêmico.
Agenda – Como o autor deve fazer para publicar pela EDUFBA?
Flávia – No site da EDUFBA existe todo o passo-a-passo sobre como publicar. O primeiro passo é buscar no site essa orientação, em caso de dúvidas pode ser feito o contato através do e-mail da editora. Mas de modo geral, é preciso basicamente encaminhar dois originais impressos, um com identificação, outro sem identificação, resumo, ficha de registro do autor. A gente designa um parecerista que vai avaliar esse livro a depender do tipo de conteúdo e a gente busca sempre avaliadores fora da universidade, porque se nossos autores estão dentro nós temos que buscar avaliação com pessoas de outras instituições. Nem o autor tem conhecimento de quem deu o parecer e nem o parecerista sabe quem é o autor.
Mesmo quando os originais são negados, eu sempre coloco para os autores que a pessoa está tendo a oportunidade de ter na mão dele tudo para uma melhoria. Até porque um livro anteriormente negado pode ser reapresentado depois, com as modificações que foram indicados. Uma outra questão a se saber é que a gente não publica tese e dissertação. A gente publica o livro que tenha sido originalmente tese e dissertação, mas a estrutura do livro é diferente. Claro que tem áreas do conhecimento que já trabalham numa perspectiva muito parecida com a do livro. A questão das citações diretas por exemplo, algumas vezes você tem uma página com citações diretas muito grandes. Isso para a estrutura de um livro não é interessante para o leitor. E a gente precisa conquistar leitores, e não mais uma banca. É preciso ver o que de fato interessa para o leitor, e fazer essa análise de eu como leitor, o que eu gostaria de ler.
Agenda – No final de 2013 a EDUFBA lançou um edital de incentivo às publicações de livros online. Como é a relação da editora com os livros online?
Flávia Rosa – Terminamos entendendo que como a gente tem um Repositório com essa política voltada para a questão do acesso aberto, por entendermos que estamos numa instituição pública, há um investimento na pesquisa, e a forma de darmos retorno à sociedade é uma forma que deveria ser também gratuita, com a opção de ter o livro em papel pago e também gratuito, na internet. E quando a coleção do livro eletrônico foi pensada juntamente com a Pró-Reitoria de Pesquisa, Criação e Inovação (PROPCI), nós decidimos que seria numa política de acesso aberto. Então que os livros eletrônicos nossos ficariam só em acesso abeto. Porém já tivemos dois casos que o processo foi inverso, primeiro lançamos o livro eletronicamente e depois, lançamos o livro em papel, pelo fato de termos tido um acesso de dois mil downloads em dois dias, isso ajudou muito a ampliar a divulgação. E o outro livro foi o que recebeu e a dissertação recebeu o premio do ComPolítica. A realidade dos e-books ainda é algo que está muito recente. No Brasil ainda temos uma barreira que é a questão econômica, sócio-econômica, e o preço do livro. E um momento de muitas indefinições do próprio mercado.
Outra questão importante é o repositório institucional da UFBA. Estamos com 246 livros disponíveis no repositório, com 3.005 acessos/dia. Praticamente dobramos o acesso nos últimos 6 meses. Um dos fatores é que migramos a biblioteca digital de teses e dissertações. Ampliamos o número de documentos, temos mais de 12 mil itens disponíveis.
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Você pode encontrar os livros da EDUFBA, em Salvador, nas três filiais da Editora na Universidade – Biblioteca Universitária de Saúde Professor Álvaro Rubim de Pinho, Biblioteca Reitor Macedo Costa e no CEAO – e nas LDM (Livraria Multicampi).