Ato inaugural da disciplina “O golpe de 2016 e o futuro da democracia” defende universidade e democracia

A primeira aula foi ministrada pelo professor e idealizador da disciplina em Brasília, Luiz Felipe Miguel

Por: Glenda Dantas

A autonomia universitária e a defesa da democracia foram temas centrais da aula-ato que inaugurou a disciplina FCH436 Tópicos Especiais em História – “O Golpe de 2016 e o futuro da Democracia no Brasil” que começa a ser ministrada na Universidade Federal da Bahia (UFBA), neste primeiro semestre de 2018. O evento, realizado na última quinta-feira (7), no auditório Raul Seixas, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, no campus de São Lázaro, contou com a participação do professor Luiz Felipe Miguel, da Universidade de Brasília (UnB), que discutiu fatos recentes do contexto sócio-político do Brasil, destacando a importância dessas temáticas nas universidades. 

No evento, o reitor João Carlos Salles, ressaltou que “reconhecer o direito ao oferecimento dessa disciplina numa universidade pública e federal é um sinal claro do compromisso da UFBA com os seus valores mais elevados e como espaço de resistência e reflexão”. 

O professor do Departamento de História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFHC) da UFBA, Carlos Zacarias Sena Junior, responsável pela disciplina, explicou a importância de fazer a aula-ato, referindo-se às tentativas de impedir que a disciplina fosse ministrada. “Não haveria necessidade de realizar um ato em favor da democracia e da universidade se ambas não estivessem ameaçadas. E é exatamente porque vivemos tempos difíceis e incomuns que propomos essa disciplina com o objetivo de refletir e debater”, explicou. 

A disciplina, que é optativa, é baseada na proposta original do professor Luiz Felipe Miguel. De acordo com a ementa, o objetivo é entender os elementos de fragilidade do sistema político brasileiro que permitiram a ruptura democrática de maio e agosto de 2016, com a deposição da presidente Dilma Rousseff, analisar o governo presidido por Michel Temer, além de investigar os desdobramentos da crise em curso e as possibilidades de reforço da resistência popular e de restabelecimento do Estado de direito e da democracia política no Brasil. 

O ato contou com a presença de 23 professores da UFBA que darão aulas na nova disciplina, entre eles ,a professora Maria Hilda Baqueiro, diretora da FFCH, que explicou que os estudos que serão realizados ao longo do semestre manterão a “tradição da casa como área de reflexão crítica sobre a realidade. Olhando e pensando sobre o hoje para então construir as possibilidades do amanhã”.  

Graça Druck, professora do Departamento de Sociologia da mesma unidade, afirmou que a iniciativa inédita em ofertar a disciplina amplia a diversidade política e promove a unidade nas concepções, pois o curso também é aberto à participação de extensionistas, vindos de vários setores da comunidade externa. 

Retrocesso
Na aula inaugural, o professor Luiz Felipe, da UNB, permeou sua fala em como “estamos voltando décadas; vivemos momentos de retrocessos; rasgaram a constituição”. A perda gradativa de espaço da civilidade, na visão do professor,  requer “uma resposta à altura daquilo que estão nos subtraindo”. Ao contextualizar sua análise, ele enfatizou quatro eixos que revelam o processo de retrocesso evidenciados pelos últimos acontecimentos em relação à Constituição Federal promulgada em 1988:  a ressignificação dos direitos como se fossem privilégios; o avanço do arbítrio e o projeto de construção de uma sociedade que legitima a desigualdade social; o rompimento da democracia como regime político. Por isso, ele assegurou que é preciso “reforçar a interlocução com os diversos campos sociais a fim de promover uma resistência popular no Brasil”.

Para a estudante de mestrado em Ciências Sociais, Lucilane Oliveira da Silva, a sua motivação em matricular-se neste componente está contida na própria ementa da disciplina, que é “a defesa do pensamento crítico acerca do Golpe de 2016”. Ela deposita suas expectativas no aspecto interdisciplinar. “Estou curiosa em saber como essa gama de professores, de tantas áreas diferentes, vão abordar os temas. É muito enriquecedor que possamos estudar os aspectos históricos e políticos que começaram em 2016, já em 2018”.

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