Autoridades públicas e religiosas participam de ato ecumênico em prol da liberdade de expressão religiosa

Por Marília Moura*

 

Instituído pela Lei 11.635/2007, de autoria do deputado federal Daniel Almeida, o dia 21 de janeiro foi a data escolhida para relembrar a luta contra o preconceito e a defesa do respeito a todas as religiões. A data também é uma homenagem à memória da yalorixá Mãe Gilda de Ogum, líder do Terreiro Abassá de Ogum. No sábado (21), o Salão Nobre da Reitoria da Ufba recebeu representantes de várias religiões e autoridades públicas para refletir sobre a importância de lutar pelo respeito às religiões, celebrar os avanços que foram conquistados e lembrar que a luta contra a intolerância religiosa continua e que é um compromisso de toda a sociedade.

 

 

A vereadora Olívia Santana, autora da Lei Municipal 6.464/2004, que estabeleceu o Dia de Combate à Intolerância Religiosa em âmbito municipal e da qual derivou o projeto de lei federal, participou do evento e lembrou aos participantes do ato ecumênico que “a estrutura do Estado precisa operar a favor da Constituição”, ressaltando que é preciso que o Estado e toda sua estrutura colaborem para que aquilo que está escrito na Constituição seja uma realidade na sociedade brasileira. O deputado federal Daniel Almeida esteve presente e observou que a própria celebração do dia 21 de janeiro mostra que é possível que diferentes religiões convivam de forma harmônica. “Este ato demonstra que estamos evoluindo, mas ainda é preciso que aja mais mobilização, mais ações e mais políticas públicas”, declarou. Também estiveram presentes no evento o presidente da Fundação Cultural Palmares, Eloi Araújo, a senadora Lídice da Mata, a deputada federal Alice Portugal e o diretor do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (Irdeb), Pola Ribeiro.

 

Representantes religiosos participaram do ato ecumênico ressaltando a relevância do respeito à diversidade de religiões. O padre Adriano Portela, membro da Comissão de Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, representou o Arcebispo de Salvador, D. Murilo, e leu a mensagem deixada pelo Arcebispo, segundo o qual “o encontro com pessoas diferentes não precisa e não deve ser um encontro de inimigos, mas um encontro de pessoas que se respeitam e, juntas, procuram descobrir o que têm em comum. Isso vale em qualquer campo do relacionamento humano; vale, igualmente, e com maior razão, no campo religioso”. O líder religioso da União do Vegetal, mestre José de Anchieta, ressaltou em seu pronunciamento que “todos têm o direito de ter alguma religião ou de não ter religião nenhuma […] o respeito é a base da tolerância, cada um tem o direito de professar sua religião”. Após a fala dos representantes seguiu-se a sessão de homenagens aos líderes religiosos que cederam suas imagens para a campanha de divulgação do Dia Nacional de Combate à Intolerância religiosa.

 

 

O primeiro a ser homenageado foi o líder espírita José Medrado. Para ele é necessário sair da teoria e ir para a prática. Ao lembrar o preconceito que as religiões de matrizes africanas enfrentam há séculos ele destacou que apenas a tolerância não é suficiente. “Não queiram tolerância, queiram respeito”, afirmou entusiasmado, sendo aplaudido de pé pelos espectadores do evento. Em seguida a senadora Lídice da Mata entregou a placa de homenagem ao pastor Djalma Torres. Este chamou a atenção para a riqueza da diversidade religiosa: “Como fechar os olhos diante da riqueza e do encanto dos orixás?” e concluiu sua fala com uma oração pela tolerância religiosa. A vereadora Olívia Santana entregou a placa em homenagem a yalorixá Mãe Stella de Oxóssi, esta ao receber a homenagem declarou que “intolerância é palavra que não deve constar no dicionário de nenhum religioso”. Embora não estivesse presente, monsenhor Gaspar Sadoc também foi homenageado por ter participado da campanha de divulgação do evento. Após a entrega das placas, a cantora Claudete Macedo entoou o Hino do Senhor do Bonfim.

 

O Procurador Regional dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal na Bahia, Domênico D’Andrea Neto, falou sobre uma liminar que proíbe atos de violação aos terreiros e afirmou que “todo ato de discriminação, antes de tudo, é um ato de ignorância”. Em seguida, o Terreiro do Ventura recebeu uma placa de homenagem por sua luta e resistência. Elias Sampaio, da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, representou o governador Jacques Wagner e encerrou os pronunciamentos ressaltando que a presença de todas aquelas pessoas ali demonstrava que o combate à intolerância religiosa não é apenas um discurso.

 

Segundo Cidélia Santos, coordenadora técnica do Centro de Educação e Cultura Popular (Cecup), instituição que participou da realização do evento, “a Bahia tradicionalmente sempre teve uma característica de respeito à diversidade religiosa. Necessitamos avançar em relação a questões como reconhecer os espaços sagrados dos candomblés como bens culturais e preservá-los, bem como a ampliar os espaços de discussão para que possamos enfrentar a intolerância religiosa”, salientou. Sobre o trabalho do Cecup ela esclarece que o respeito à cultura dos ancestrais sempre foi prioridade na instituição. “Nós brasileiros somos fruto de uma mistura de raças, indígena, européia e africana. Portanto, herdamos as religiões de nossos antepassados e temos que preservá-las. Na nossa instituição convivemos harmoniosamente com as diferentes religiões, o candomblé, o espiritismo, o catolicismo, os batistas, entre outros”, declarou a coordenadora.

 

Para o historiador e bailarino César Sousa, um dos espectadores do evento, o ato ecumênico não deveria acontecer apenas uma vez por ano: “Deveria acontecer mais vezes, não deveria acontecer apenas no dia 21 de janeiro. Um evento dessa natureza poderia ser realizado em escolas e nas comunidades, por exemplo, e poderia abranger mais as pessoas que vivem na periferia da cidade, pois, a maioria dos participantes desses encontros ainda é formada pelas mesmas pessoas que frequentam os bancos das universidades. É preciso fazer com que ações como esta envolvam ainda mais as comunidades”, opinou.

 

A apresentação da Orkestra Rumpilezz marcou o encerramento do ato ecumênico. Sob a regência do maestro Letieres Leite, os músicos animaram o público e finalizaram o evento.

 

*Estudante de Produção Cultural da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom

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