Biografia de Edgard Santos é lançada no Museu de Arte Sacra da UFBA
Lançamento do livro é prestigiado por acadêmicos, admiradores e personalidades baianas. Escolha pelo Museu de Arte Sacra tem forte relação com a história do homenageado.
*Por Virgínia Andrade
Sobre Edgard Santos há muito o que dizer. Não há quem questione. Antônio Risério, sociólogo, antropólogo e ensaísta, o fez em 476 páginas, sublocadas em 18 capítulos independentes, mas complementares. Edgard Santos e a reinvenção da Bahia, lançado na noite da última quinta-feira 08 de agosto, no Museu de Arte Sacra, embora seja uma biografia, não corresponde à estrutura biográfica convencional – escolha justificada ainda no prefácio com a máxima “sua vida era o seu projeto”. No livro, Risério desloca seu foco para a trajetória profissional de Edgard, fundador e primeiro reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), sem deixar de traçar o perfil daquele que melhor representou o pensamento de vanguarda na Bahia.
O evento de lançamento foi celebrado com a presença do ex-governador da Bahia (1975 a 1979) e filho de Edgard, Roberto Santos; de Pedro Novis, presidente da Odebrecht e idealizador do projeto; do ex-presidente da Petrobras e professor de Economia da UFBA, Sergio Gabrielli; da escritora Myriam Fraga, diretora da Fundação Casa de Jorge Amado; e do cineasta e atual diretor da TVE Bahia, Pola Ribeiro, entre outras personalidades. A reitora da Universidade Federal da Bahia, Dora Leal, presente na cerimônia de abertura realizada na Capela de Santa Tereza, quando questionada sobre a dimensão e a responsabilidade de ocupar a cadeira que pertenceu a Edgard Santos por 15 anos (1946 a 1961), foi efusiva: “É imensa e muito difícil de igualar. Edgard, além de fundador da Universidade, conseguiu capitalizar um conjunto de questões daquele momento particular e projetar a universidade na cidade”. Continua: “Então, é uma honra enorme estar hoje na direção da UFBA, mas, claro, entendendo a responsabilidade desse cargo”.
A escolha do Museu de Arte Sacra da UFBA como sede do lançamento da biografia de Edgard Santos explica-se pelos fortes vínculos do museu com o homenageado. Criado em 1957 pelo médico e professor, o museu abriga em seu interior a capela de Santa Tereza, onde foram enterrados, inclusive, os restos mortais de Edgard e de sua esposa.
Aclamado por pensar a sociedade sob a perspectiva da educação associada à cultura, Edgard Santos, apesar das raízes conservadoras, se destacou pelo caráter inovador e modernizante. Na opinião da escritora Aninha Franco, o maior legado do ex-ministro da educação de Getúlio Vargas foi o reconhecimento da importância da arte, o que para ela “tanta falta faz aos gestores contemporâneos”.
Entusiasta da cultura, Edgard inaugurou uma época de renovação cultural em Salvador ao criar os primeiros cursos superiores de dança, teatro e música do país. Para Antônio Risério o que fica de mais importante para ser discutido e considerado no debate atual sobre cultura é a transgressão e a subversão de Edgard. Aproveita, inclusive, para criticar a existência do Ministério da Cultura (MinC): “não precisa ter essa frescura de Ministério da Cultura para fazer nada. Nunca precisou. Nos anos 30 com Capanema, na década de 50 com Edgard… Ministério da Cultura é vaidade”, provocou.
Da década de 50 aos anos 2000 Da fundação da UFBA em 46 à constituição da universidade atual muitas coisas mudaram. Segundo a reitora Dora Leal, embora sejam ambas grandes universidades, a primeira significativa distinção é que a UFBA criada por Edgard era muito ligada à cidade de Salvador e consideravelmente menor. “Nós tínhamos cerca de 1600 alunos. Hoje, a UFBA mantém a tradição de qualidade, mas com 40.000 estudantes”. Dora salienta ainda o processo de expansão e interiorização da Universidade com os campi de Barreiras e Vitória da Conquista, além de ressaltar o caráter plural e integrador da instituição, que reúne “estudantes de diferentes segmentos sociais e etnias”.
João Carlos Salles, diretor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH/UFBA), destaca a importância de resgatar parte do legado de Edgard através do livro de Risério em dois pontos principais. Primeiro, salienta o refinamento intelectual do sociólogo e a vitalidade que imprime na reflexão sobre todos os temas que toca. Portanto, para Salles, Risério pensando Edgard Santos já é uma coisa especial. Em segundo lugar, pontua que “o nome Edgard Santos se associa intimamente à Universidade Federal da Bahia, espaço privilegiado de reflexão e tradução da sociedade”. Nesse sentido, “a identificação que a obra de Risério traz à tona e atualiza é muito importante para viver a Universidade e viver a sociedade baiana”, conclui.
Uma biografia anticonvencional Com o propósito de construir o retrato de um personagem da estatura e complexidade de Edgard Santos, Antônio Risério dedicou-se por mais de um ano à publicação. De acordo com o diretor da Editora Versal, a materialização do livro aconteceu quando conseguiram um autor para viabilizá-lo. “Risério embarcou totalmente neste desafio”, afirma. Da intensa pesquisa que precedeu a escrita do livro, o autor reuniu material suficiente para compor uma atualização que desse conta da grandeza da obra do médico e professor Edgard. Ao declarar o que espera dessa atualização, Risério foi enfático: “Ver se a Bahia toma juízo”, ou seja “reconhecer sua grandeza, saber o que faz, deixar de ser tão ignorante, tão desinformada e tão mal-educada”.