A transgressão na obra de Caio Fernando Abreu
Evento produzido pelo CUS, no dia internacional da luta contra a homofobia, fez homenagem ao jornalista e escritor Caio Fernando Abreu
Por Yananda Lima
Caio Fernando Abreu transgrediu as convenções heterossexistas de sua época ao tratar de temas como amor livre, liberdade sexual e relações homoeróticas. O jornalista, dramaturgo e escritor brasileiro foi homenageado em evento promovido pelo Grupo de Pesquisa em Cultura e Sexualidade (CUS) da Universidade Federal da Bahia, no dia internacional da luta contra a homofobia, bifobia e transfobia.
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A mesa-redonda contou com a presença de Paulo Garcia, professor da Universidade do Estado da Bahia e pesquisador da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística com recorte em homocultura e linguagens e Alexandre Nunes, professor da Universidade Federal do Cariri.
Também participou do evento, o professor do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade e professor adjunto do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (IHAC), Djalma Thurler, apresentou a leitura dramática da sua nova peça com estreia prevista para setembro, Hay cuerpos que no deben repetirse en la aurora.
O evento também contou com a exibição de curtas inspirados nas produções de Caio Fernando Abreu como Morangos Mofados de 1987, baseado no conto Pela passagem de uma grande dor, Sargento Garcia de 1997 com direção de Tutti Gregianin e A Dama da Noite de 2014 do diretor Dino Menezes.
Caio F.
Duas vezes ganhador do prêmio Jabuti – tradicional e prestigiado prêmio da literatura brasileira – pelo livro Triângulo das Águas e Ovelhas Negras, Caio foi um escritor a frente do seu tempo. “Muitos tratam a obra de Caio F. como uma reabilitação de um tempo vivido. Um estereótipo, típico de uma geração”, aponta Paulo Garcia.
Sua escrita não só sofria influência direta do contexto social e político que estava inserido, como era o retrato de algumas de suas memórias. “As histórias de ficção eram baseadas nas suas vivências em um país em processo de redemocratização”, afirma Paulo.
Caio F., jornalista e militante assumidamente homessexual, durante a ditadura militar brasileira, foi perseguido pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e se exilou por um ano na Europa onde teve contato com as obras de uma das suas inspirações, a autora Virginia Woolf.
Com a alta repercussão das suas produções de Woolf nos anos 70 em Londres, é na autora que Caio se inspira para escrever sobre questões relativas ao amor livre, liberdade sexual e contos autobiograficos. “Inclusive o nome da máquina de escrever do Caio era Virgínia Wolf”, lembra Alexandre Nunes.
Em suas obras, Caio F. descreve relações amorosas homoeróticas como em Sargento Garcia e personagens contextualmente ignorados, afrontando as convenções heterossexistas da época. “A presença de travestis, gays, desencontros amorosos, desejos por estranhos e delírios sexuais surgem em contraponto aos dispositivos de poder negados socialmente”, afirma Paulo Garcia.
Nascido em Porto Alegre, Caio Fernando de Abreu trabalhou como jornalista em revistas como Nova, Manchete e Veja, e em jornais como Zero Hora, Folha de SP. e O Estado de S. Paulo. Portador do vírus HIV, Caio faleceu dois anos depois da descoberta da doença em 1996.
“A vida grita. E a luta, continua”. É assim que Caio Fernando Abreu finaliza sua última Carta para Além dos Muros publicada no jornal O Estado de S.Paulo, na qual declara ser portador do vírus em dezembro de 1995.
17 de maio
Há 26 anos, no dia 17 de maio de 1990, o “homossexualismo” foi retirado da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), publicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Desde então esse é considerado o dia internacional da luta contra a homofobia, bifobia e transfobia.
Embora o “homossexualismo” tenha sido retirado da lista, a OMS mantém o transexualismo no grupo de transtornos da personalidade e do comportamento do adulto, na categoria de transtornos da identidade sexual. “Existe uma luta internacional pela despatologização das identidades trans e o CUS é partidário dela”, aponta Leandro Colling, criador e coordenador do grupo de pesquisa Cultura e Sexualidade.