Comunicação não violenta é tema de oficina na UFBA

por Beatriz Bulhões

Enquanto algumas pessoas diziam grosserias a outras, motoristas xingavam no trânsito e internautas escreviam discursos de ódio nas redes sociais, Salvador recebia uma palestra sobre a comunicação não violenta. Criado na década de 60 pelo psicólogo norte-americano Marshall B. Rosemberg, e com adeptos como Gandhi, esse método ensina técnicas para transmitir o pensamento sem machucar verbalmente o outro.

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A oficina que ocorreu dia 13 de janeiro na Faculdade de Comunicação (Facom) foi ministrada pelo francês treinador e facilitador de cooperação, Olivier Boullet. “Na verdade, descobri a comunicação não violenta aqui no Brasil, há 5 anos. Gostei tanto que na volta para a França eu comecei a estudar e fiz diversos cursos para me integrar”, conta ele. A atividade foi idealizada por Lucas Gama, estudante de jornalismo que havia conhecido Olivier há uma semana durante um retiro.

Ao planejar a oficina, o estudante tinha como público-alvo especialmente pessoas ligadas à área de comunicação, como os estudantes da Facom, ou a de filosofia. “Eu chamei muitas pessoas e poucas delas vieram, ao invés disso vieram outras de diversas áreas que eu nem sei como ficaram sabendo, o que é maravilhoso”, relata.

Aos que não puderam participar, Olivier aconselha a praticar hábitos mais simples, como respirar fundo e pensar antes de falar. Para as pessoas que sofrem com estresse, o conselho é o autoconhecimento: “Se você esta estressado, tente tomar pelo menos meia hora em cada semana para pensar ‘o que farei essa semana para melhorar meu estresse?’ ou pensar durante 5 minutos por dia sobre o dia, o que foi estressante durante esse dia e o que fazer para mudar isso”.

O caminho do autoconhecimento

Durante sua fala, Boullet teve ajuda de dois fantoches: o chacal e a girafa. O chacal era responsável pelas falas violentas, julgamentos e comparações. Já a girafa era a representação de alguém que conseguia controlar sua raiva na hora falar.

“Temos escolha entre pensar e falar”, ensinou. Em uma das dinâmicas, a plateia foi convidada a lembrar o último episódio em que falou com raiva e o que poderia ter dito se pensasse melhor. Todas as ocasiões escolhidas pelos participantes tinham em comum serem recentes e conterem diversos palavrões e ofensas desnecessárias. Ao fim do exercício, coube a cada um pensar no porquê de ter se comunicado “como o chacal”. Segundo Olivier, a comunicação violenta é resultado de frustrações . “Todos os julgamentos são expressões trágicas de necessidades não atendidas”, defendeu.

Outro aspecto abordado foi o de quem absorve ofensas para si ou, nas palavras do facilitador, aquele que apenas vestiu as orelhas do chacal. Se a fala do chacal é composta de julgamentos e ordens, a pessoa que veste as suas orelhas é a que ouve as ofensas e acredita que merecia aquilo. “O chacal diz ‘você deve fazer isso, você não faz nada direito’ e o que está com as orelhas de chacal voltadas para si pensa ‘é, eu deveria ter feito, eu realmente não faço nada direito’ e fica se martirizando por isso”, explica Olivier.

Ao decorrer da noite, foi ensinado como se expressar de forma não violenta. O caminho da girafa passa pela observação, seus sentimentos, suas necessidades, e por fim um pedido, não uma ordem. A fala da girafa é vista aqui como uma parte de autoconhecimento, onde cada um deve entender o porquê de se sentir com raiva e se expressar violentamente. Para o palestrante, a causa de nossos sentimentos são nossas necessidades. “O que os outros fazem e dizem é só o estímulo”.

Da mesma forma que existem as orelhas do chacal, há também as orelhas da girafa. Nesse sentido, o interlocutor que evita conflitos, opta por pensar nos sentimentos e necessidades daquele que foi grosseiro, sem procurar revidar. “Temos todos as mesmas necessidades e estratégias diferentes para satisfazer-se”, ensina o facilitador.

Todo mundo se comunica

A plateia, de cerca de 30 pessoas, deixou a sala 13 apertada. O número de pessoas fez com que o evento se estendesse acima do horário previsto. “Pra mim é um desafio, porque tenho muita coisa pra falar e as pessoas também querem exprimir seus sentimentos e interagir, o horário acaba ficando meio apertado”, explica o facilitador

Para a participante Mônica Freire, compositora, o workshop foi importante para se pensar a violência no mundo atual. “A gente está num momento mundial tão em crise, acho que cada vez mais a gente precisa dessa comunicação não violenta de respeito às diversidades, então vim de coração aberto pra ouvir”, conta.

Roberto Gama, estudante de Engenharia Ambiental, disse ter achado essa proposta interessante, apesar de alguns problemas com o sotaque do palestrante. “Só o fato de ele ser francês que dificultou um pouco o meu entendimento, mas a ideia é legal, agora eu vou digerir esse processo e começar a identificar melhor as coisas que falo”.

“Eu estou feliz, acho que consegui passar alguma mensagem e, no final, as pessoas pareciam contentes e empolgadas, então deu certo”, finalizou Olivier Boullet.

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