Exu e suas faces: a energia do orixá no Mafro
Exposição, em cartaz no Museu Afro-Brasileiro da UFBA desde o início de 2013, comemora continuidade da mostra em 2014 com sucesso de público
*Por Natácia Guimarães – repórter voluntária da Agenda Arte e Cultura UFBA
Exu- Èșù em yorubá significa “esfera” e, refere-se a movimento. É o homenageado na exposição em cartaz, há quase um ano, no MAFRO – Museu Afro-Brasileiro da UFBA. Interativa, com obras de artistas plásticas baianas, a exposição desconstrói a imagem preconceituosa comumente relacionada ao orixá.
A Exposição, que tem como intuito fazer homenagem a vários orixás, teve, como primeiro representante, aquele que abre os caminhos – Exu – para discutir algo que é muito falado dentro e fora do candomblé e compreender essa energia. Segundo o curador da exposição no Mafro, Marcos Antônio Passos, “Exu não é uma energia do mal. O mal ou o bem está dentro dos humanos e ele (Exu) é o movimento que deve ser usado para o bem. Se você quer abrir uma porta que vai trazer dor, você decide. Ele é um orixá que gosta de ensinar. Ele que quer o ser humano use seu potencial para fazer um bem. É uma entidade que não é compreendida e sofre muita intolerância e ele precisava ser mostrado no museu”, defende. O orixá representa o mensageiro, aquele que faz a ligação entre os homens e os demais orixás e à entidade suprema Olodumaré. Ele é o representante da comunicação. É o orixá de características que mais se aproxima do ser humano. Possui o objeto fálico que é a representação do profano, da reprodução, prazer e da festa.
Muitas são as confusões e equívocos relacionados a Exu. O pior deles é a associação à figura do diabo cristão; como um deus voltado para a maldade, para a perversidade, que se ocuparia em semear a discórdia entre os seres humanos. Esse equívoco pode ser visto no tridente associado à imagem de Exu. Uma característica colocada nele e que não o pertencia. Na realidade, Exu contém em si todas as contradições e conflitos inerentes ao ser humano. “Exu é uma divindade do panteão que está ligada à comunicação – da fala e do corpo. Ele tem um papel fundamental e representa um elo de ligação. O mundo ocidental tem uma base judaico-cristã em que o corpo foi visto como sede do pecado. No mundo afro-oriental o corpo não tem essa relação de pecado. Os africanos têm uma visão de mundo de corporalidade e sexualidade e que tem uma divindade que está ligada a sexualidade. Então não foi difícil, para a igreja católica, associar a imagem de Exu ao diabo. Colocar o chifrezinho, o rabinho – e essa mentalidade ainda se perpetua no imaginário das pessoas ao associar Exu ao diabo. Foi também associado ao malandro carioca, ao negro que joga cartas… Inversão simbólica da ordem do cara que ojeriza o trabalho em pleno modelo fordista”, diz o Antropólogo Fábio Lima, autor do livro “Que diabo é Exu?”, sobre a questão pejorativa relacionada ao orixá.
A exposição ultrapassou o tempo estimado – três meses, desde o primeiro semestre do ano passado – devido ao número de público. Turistas, religiosos, escolas fomentaram as visitas. Segundo o curador, a visita é constante. A pessoas conhecem o orixá e se encantam. Uma escultura de Exu, na abertura da mostra, é comprovação da sintonia público-orixá. “As pessoas fazem um pedido e colocam uma moeda. E essa quantidade de moedas possibilitou três compras de comida para ele. Gerou varias coisas: pedidos, rezas, choros”. E, mesmo entre novas exposições que se instalam no Mafro, permanece constante o seu sucesso.
Exu na arte A relação de artistas baianos com orixás e, principalmente Exu, pode ser vista em obras deixadas por eles. Jorge Amado, Carybé, Pierre Verger, entre outros, cada um possui um visão da entidade. No Mural dos Orixás, de Carybé, Exu foi representado com seu típico gorro cônico tendo o corpo adornado com bastões em forma de falo e as inúmeras cabaças contendo as poções mágicas que ele costuma carregar. O escultor também fez uma escultura para o escritor Jorge Amado que possuía relação intensa com o orixá. A escultura foi pré-requisito pedido por Jorge para criar a sua Fundação. “Coloquei a fundação sob a proteção, os cuidados de Exu, entregue ao seu desvelo. Sob a grande placa das três raças que se misturaram, os índios, os negros, os brancos, arte de Carybé, erguido diante da casa, Exu preside o destino da fundação; ali foi plantado o fundamento na noite da inauguração”, escreveu Jorge Amado.
Pierre Verger criou um livro intitulado Orixás que apresenta textos e ilustrações que comentam e mostram certos aspectos do culto a Exu e outros orixás. Mario Cravo, por sua vez, criou esculturas e definiu: “Não sou preto, branco ou vermelho. Tenho as cores e formas que quiser. Não sou diabo nem santo, Sou Exu!”. Sob diversos pontos de vista. O mais importante é a relevância dessa entidade e a energia que emenda no mundo.