Filme Cuíca de Santo Amaro tem pré-estreia na UFBA
Documentário tem pré-estreia na UFBA e apresenta a história do cordelista que virou mito e inspirou personagens na literatura baiana.
*Por Vanice da Mata
A Salvador dos anos 1930 e 40. Este é o cenário para o qual o telespectador é logo transportado numa das primeiras cenas do longa-metragem Cuíca de Santo Amaro, dirigido por Joel de Almeida e Josias Pires. O filme teve pré-estreia acadêmica na Universidade Federal da Bahia (UFBA) na tarde do último 6 de agosto, na sala de videoconferência do Pavilhão de Aulas da Federação-3 (PAF-3). Na plateia, pesquisadores, professores, alunos do Bacharelado Interdisciplinar em Artes e de outros cursos interessados na sétima arte baiana, em sua grande parte integrante do grupo de pesquisa Vivendo Imagens – um olhar sobre o cinema baiano, coletivo que promoveu a avant-prémière.
“A ideia é refletir sobre o que é feito no cinema na Bahia com os próprios realizadores, em encontros quinzenais”, explicou a professora Marise Berta, doutora em artes cênicas, professora da UFBA e orientadora do grupo. Josias Pires conta que foram entrevistadas mais de 50 pessoas, e que as próprias filmagens já eram a pesquisa para o filme. “Cuíca de Santo Amaro é um filme processo que não teve um roteiro pré-definido, e isso nos levou a elaborá-lo constantemente”, contou o diretor.
Com uma narrativa bem dosada entre memória e história, os cineastas conseguiram criar um resultado orgânico. “O que mais chamou a minha atenção neste filme foi o trabalho de uma história da Bahia lado a lado com a memória, já que esta é um tempo que não tem cronologia”, explicou Izabel Melo, pesquisadora em Cinema e mestre em História pela UFBA.
Memória foi uma palavra-chave neste trabalho. O processo de recriar boa parte da voz de Cuíca no filme, por exemplo, é fruto do trabalho coletivo materializado no trabalho do ator Gil Teixeira. “Com base nas falas das pessoas que conviveram com Cuíca, e mesmo com o estudo de registros sonoros que já existiam em filmes como a Grande Feira (Roberto Pires/ 1961), a gente conseguiu ensaiar um ator para que ele recitasse os ‘versos’ de Cuíca”, revelou Josias, depois de ser questionado por uma das alunas presentes que se mostrara bastante surpresa com a quantidade de áudio disponível no filme. “A gente tinha quase nada”, confidenciou o cineasta. Dos depoimentos selecionados para o filme, os diretores priorizaram os daquelas pessoas que tiveram algum contato ou mesmo lembrança da figura de Cuíca. “Entrevistamos muita gente, mas nem tudo rendeu”, revela.
Após cinco anos de produção, com pequenas interrupções, Cuíca de Santo Amaro finalmente estreia em Salvador no dia 23 de agosto, depois de adiamentos. O filme tem apoio do Fundo de Cultura do Estado da Bahia, o que vai possibilitar sua exibição em 29 cidades do interior do Estado, a partir do dia 15 ainda de agosto.