Filme A Máquina é tema de tese apresentada no X Enecult
Por Natácia Guimarães
A Máquina, filme baseado no livro homônimo da escritora Adriana Falcão, recebeu lugar de destaque em uma das apresentações nos grupos de trabalho sobre Cultura e Artes na décima edição do Enecult (Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura), no Instituto de Letras da Ufba. O trabalho foi apresentado pela estudante de mestrado da Uneb, Mônica Grisi Chaves .
O encontro, que foi criado em Salvador, no ano de 2005, tem o intuito de fomentar a interlocução entre os estudiosos da cultura em uma perspectiva transversal e multidisciplinar. Dentro desse contexto, o enredo do livro A Máquina foi discutido a partir da apresentação da tese entitulada “A vida secreta das imagens: a relação entre os personagens de A Máquina e a sociedade do espetáculo”.
A Máquina
O livro de Adriana Falcão foi adaptado, pela primeira vez, para o teatro e, posteriormente, para o cinema. A história se passa na cidade de Nordestina, excluída no tempo e no espaço. A cidade pequena não possui nenhum atrativo para os habitantes que, com o passar do tempo, começam a migrar para outras regiões do país, conhecidas através da televisão – único meio de entretenimento existente. Toda a população do local vive encantada com a vida e os padrões transmitidos pela televisão. É nesse cenário que surgem os personagens Karina e Antônio. A menina tem como sonho e perspectiva de vida sair de Nordestina e tornar-se uma estrela, no sentido figurado de ser popular e famosa. Antônio, por sua vez, é um dos poucos habitantes que gosta de viver a vida pacata da cidade e não tem pretensão de sair do lugar. Além disso, o jovem é apaixonado por Karina e seu ânimo de vida é ensaiar textos televisivos ao lado da pretendente.
O clímax da história acontece quando a menina resolve ir para “o mundo” e, para garantir que Karina não vá embora, Antônio promete trazer o mundo até Nordestina. Para conseguir isso, ele vai a um programa sensacionalista e promete algo inusitado que chama a atenção das redes sensacionalistas: criar uma máquina do tempo. Caso não consiga, Antônio promete tirar a sua própria vida. Isso atrai atenções de todas as redes para Nordestina, e dessa forma, todos se interessam pelo lugar.
A sociedade vive em um eterno simulacro, pois, de tanto imaginarem-se na vida transmitida pela televisão, achavam que a realidade que viviam não era real. Em uma passagem do livro, a personagem chega a afirmar que gostaria de ficar na cidade devido ao seu amor por Antônio, porém desiste e afirma que o amor e a vida que levavam não era real, a vida real mesmo é a mostrada pela televisão.
Existe uma descaracterização da cidade com a chegada da televisão. O meio de comunicação instiga todos a buscarem o que antes era desconhecido. Características da sociedade mediada por imagens e estudos da sociedade de massa de Adorno também são abordados no estudo.
Outra análise feita durante a apresentação foi a do próprio nome da cidade e sua condição. Nordestina está fora do tempo e espaço, e é afirmado pelos personagens que não existem recursos financeiros disponíveis para a cidade pois ela não tem futuro. Assim, a autora da tese percebeu uma crítica ao estigma que existe em relação a região nordeste do Brasil e ao fluxo contínuo de pessoas para o eixo Rio-São Paulo.
A autora
Mônica Grisi Chaves possui graduação em Letras Vernáculas pela Universidade Católica do Salvador (1997). Atualmente é professora e tem experiência na área de Letras, com ênfase em Língua Portuguesa, atuando principalmente nos seguintes temas: língua portuguesa, didática, globalização e ensino.