O mercado de História em Quadrinhos no Brasil

Quadrinistas e pesquisadores analisam produções e apontam as maiores dificuldades enfrentadas no mercado de história em quadrinhos no Brasil

Por Yananda Lima

Considerado como um importante setor da economia criativa, o mercado de histórias em quadrinhos no Brasil ainda impõe dificuldades aos produtores da nona arte. O tema foi discutido em evento da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, que reuniu pesquisadores e produtores para discutir suas experiências e os processos de recepção de HQs. Participaram da mesa o  professor da Universidade Estadual da Bahia e pesquisador em Comunicação e Cultura com ênfase nos aspectos narrativos das histórias em quadrinhos, André Luiz, o editor-chefe do site e da editora Quadro a Quadro, Lucas Pimenta,  e Lila Cruz, ilustradora,  uma das editoras da Revista Farpa e proprietária da Quadrada, editora destinada à produção independente.

Lucas Pimenta apontou as dificuldades do mercado das histórias em quadrinhos. “Pensava que só eu lia quadrinhos em Salvador. Uma vez mandei uma carta para uma revista e pela primeira vez eu vi uma carta enviada de Salvador publicada. Naquela ocasião eu tive certeza de que só eu lia quadrinhos na cidade”, brinca.

Na década de 60 surgem, no país, personagens famosos com publicações produzidas até hoje, como Pererê, de Ziraldo e Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão, criações de Maurício de Souza, com linhas de produtos da marca que vão desde sandálias a macarrões.

Dominando um mercado não muito forte no país, há uma concentração das vendas em publicações da Turma da Mônica. “Quadrinho se vende basicamente em bancas, tirando os encadernados. O jornaleiro sabe que Mauricio de Sousa vende, então ele não vai colocar Seninha ou A Turma do Xaxado na frente”, argumenta Pimenta.

Com um repasse de 10% no preço do livro publicado das editoras para os autores e com um mercado editorial polarizado, o financiamento coletivo aparece como uma alternativa para os produtores independentes. Lila Cruz recorreu ao crowdfunding, experiência na qual obteve êxito apenas da segunda vez. “Percebi que precisava formar um público para começar um projeto através de plataformas de financiamento coletivo”, afirma.

A prática do financiamento coletivo é recente no Brasil e muitas pessoas ainda apresentam insegurança para contribuir. Segundo a ilustradora, as pessoas ainda se sentem receosas por não terem noção dos gastos ao se publicar uma HQ. “Quando colocamos o valor do nosso trabalho, contando com comissão, impressão e distribuição, as pessoas se assustam e muitas vezes não contribuem”, relata.

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Lila Cruz comercializa as produções da Editora Quadrada em loja virtual  | Imagem: Divulgação do Facebook

Autora nordestina de HQs

Como mulher nordestina, Lila Cruz afirma ter que lidar com duplo preconceito ao se referir a comentários direcionados ao seu modo de falar e comparações entre seus desenhos e de autores masculinos, durante a participação em eventos literários de exposição de histórias em quadrinhos.

A autora ainda conta que os eventos e feiras direcionadas aos leitores de HQs são compostos em sua maioria por homens. “Há seis anos atrás, quando ia a eventos de quadrinhos, as mesas eram compostas pelas mesmas pessoas. Agora, criamos um grupo de mulheres quadrinistas que exigem presença nos eventos, exigem representatividade” afirma.

Projeto financiado através de um site de financiamento coletivo, a Revista Farpa é uma publicação de 150 páginas assinada por 99 autoras. A publicação surgiu derivada de uma necessidade de afirmação de espaço em uma sociedade no qual o meio artístico de produção é considerado majoritariamente masculino.

História dos quadrinhos

De acordo com Marco Aurélio Lucchetti, doutor em artes pela Universidade de São Paulo, em artigo pelo site da Universidade Federal de São Carlos, em 1895 surgiu Yellow Kid, considerado o primeiro personagem de quadrinhos da história.

Em 1869, Angelo Agostini, italiano radicado no Brasil fundador da Revista Illustrada, produziu a primeira HQ brasileira. Dividida em dois episódios, As aventuras de Nhô-Quim contava a saga de um caipira ao visitar pela primeira vez a corte do Rio de Janeiro.

Já no século XX, houve a explosão dos quadrinhos em escala mundial, com a criação de personagens como Gato Félix, de Pat Sullivan, Mickey Mouse, de Walt Disney e Tintin, do quadrinista belga Hergé, cujo êxito se prolongou por décadas e recentemente foi adaptado por Steven Spielberg ao cinema.

Os mangás – como são nomeadas as HQs japonesas – tiveram o auge das vendas no século XX, ao ganharem reproduções no cinema e na TV, veículos nos quais são chamados de animes. Apesar do sucesso, segundo Lucas Pimenta, o mercado de HQs é difícil em qualquer país, até mesmo no Japão e França, locais onde se concentram a maior parte dos leitores de quadrinhos mundiais.

Criado por Albert Uderzo e René Goscinny, em 1959, na França, Asterix foge a regra, liderando até hoje as vendas no mercado editorial francês ao lançar um novo álbum. “O novo asterix em latim, uma lingua morta, vendeu mais de 3 milhões de exemplares”, destaca o editor-chefe do site e editora Quadro a Quadro, Lucas Pimenta.

O debate Quadrinhos e Recepção aconteceu no dia 11 de maio e foi uma iniciativa do Grupo de Pesquisa Recepção e Crítica da Imagem (GRIM), liderado por Regina Gomes, doutora em ciências da comunicação e professora da Facom.

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