Humor e Violência Simbólica na internet

Mestranda Ellen Guerra analisou o humor e a violência simbólica na internet, a partir de Memes da página do Facebook “Orgulho de ser hétero”

Por Kelven Figueiredo

“Humor e violência simbólica no facebook” é o título do artigo produzido pela aluna do Póscom-UFBA e integrante do GJOL – Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-Line, Ellen Guerra Cerqueira, apresentado durante o Congresso UFBA 70 anos. Partindo do conceito de violência de Slavoj Zizek e de violência simbólica de Pierre Bourdieu, a mestranda analisou postagens da página “Orgulho de ser Hétero”, no Facebook, publicadas no dia internacional das mulheres (8 de março). 

Na primeira parte do trabalho, o conceito de violência é caracterizado, a partir da formulação do teórico Slavoj Zizek, que define dois tipos de violência: a subjetiva e a objetiva. A primeira, materializada, pode ser mais facilmente percebida, por deixar marcas visíveis no discurso. A violência objetiva, por sua vez, é considerada como não materializada. Invisível aos olhos, é dividida em duas vertentes: a sistêmica e a simbólica .“Violência Sistêmica é quando ela está relacionada a algum sistema que está muito bem estabelecido, enquanto a Violência Simbólica, que é o principal objeto em meu trabalho, é baseada na linguagem e permeia várias facetas da nossa vida social e que você não consegue percebê-la”, explica Ellen. 

O segundo conceito abordado no artigo é o Poder Simbólico por Pierre Bourdieau. “O conceito contrasta um pouco com o conceito de Zizek […] porque ele fala de dominação de classe e como você precisa que a dominação de classe exista […] para que se exista esse poder simbólico e por consequência a violência simbólica”, aponta a autora.

O trabalho parte da definição de humor de Henri Bergson, conceito que envolve três fatores ou, nas palavras do autor, ” categorias do fazer rir”: a primeira diz que para fazer rir é preciso remeter à alguma experiência pessoal ou atitude humana. A segunda categoria é a insensibilidade ou indiferença – quando alguém se machuca, por exemplo, só é possível rir de situações assim se estamos insensíveis e indiferentes à vítima. E, por fim, a terceira que explica que o meio social é imprescindível para o humor, pois sempre estamos rindo de algo ou alguém.

Na segunda parte do trabalho, os três conceitos são aplicados à análise das postagens. “O site escolhido foi o Facebook, por seu alcance, tamanho e porque a página que eu estudei surge no Facebook” esclarece a estudante se referindo à página “Orgulho de ser hétero”. A análise foi feita com postagens do último dia internacional da mulher (08/03) e acompanhadas até o dia 31 do mesmo mês, antes da página ter sido derrubada após um volume massivo de denúncias feitas por grupos de militância que sentiram-se ofendidos com as postagens de conteúdo machistas, homofóbicos, xenofóbicos e elitistas.

A página fez três postagens no dia em questão, entre elas, uma que parabenizava as mulheres, caracterizando-as como meras costelas. Nos cometários era possível encontrar homens parabenizando suas mães, esposas e filhas, elemento analisado pela pesquisadora. “O humor atrelado à violência simbólica faz com que o sujeito não consiga perceber que a postagem inferioriza, oprime e é preconceituosa com as mulheres”, afirmou. Uma segunda, que também parabenizava as mulheres, era composta de imagem de um personagem famoso por agredir sua esposa em uma novela da Rede Globo. E, nesse post, além de comentários de pessoas que concordavam com o conteúdo e não percebiam a violência explícita, haviam pessoas que percebiam, mas produziam outros tipos de violência em seus discursos ao tentar defender a violência expressa pela página. E, por fim, uma terceira, com uma imagem de um estacionamento, fazia alusão a uma festa em comemoração ao dia da mulher, imagem composta por  carros batidos e fora de suas vagas. Essa imagem foi a mais compartilhada do dia e nos comentários era possível ver mulheres transferindo a culpa para os homens o que Ellen chama de “combater preconceito com preconceito”.

 

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