Opará Saberes prorroga inscrições para edital de apoio ao ingresso de pessoas negras na pós-graduação pública
As candidatas podem se inscrever até amanhã (02)
Por: Ruan Amorim
Agora as inscrições vão até dia 02 de setembro de 2022. Para quem deseja ingressar nos cursos de mestrado e doutorado das universidades públicas, o projeto Opará Saberes oferece ciclos de formação e mentoria, acompanhamento psicológico e desenvolvimento de práticas para o aperfeiçoamento da fala pública.
As inscrições são realizadas através do preenchimento da ficha de inscrição do anexo I do edital simplificado 01/2022 da iniciativa Opará Saberes, disponível no link, juntamente com carta de motivação indicando a preferência do eixo temático e esboço do projeto. A ficha preenchida e carta devem ser enviadas para o e-mail candidaturasopara2022@gmail.com .
Segundo a organização, é importante ressaltar que “as candidatas poderão se inscrever nas duas modalidades (curso e mentoria), apenas assinalando as opções de escolha no ato da inscrição. O ciclo formativo acontecerá entre os dias 19 de setembro a 20 de novembro de 2022.
A formação do Opará nesta edição será organizada em 5 (cinco) eixos temáticos: Masculinidade, Violências de Gênero e Interseccionalidade; Gênero, Poder e Ciências; Sistemas de Justiça e Prisionizacão; Saúde da Mulher e Saúde da População Negra; e Colonialidade, Literatura e Epistemicídio. É vedada a participação em mais de um eixo temático e a carga horária dessa modalidade será de 36 horas-aula no formato híbrido (presencial/virtual), acolhendo pessoas negras de todo o Brasil
Já a mentoria contará com um time de intelectuais negres que orientarão as candidatas na escrita do projeto e demais etapas da seleção. Serão 40 horas de tutoria e, para que esse processo seja aproveitado ao máximo, cada candidata, no ato da inscrição, deve expor seus desejos e interesses de pesquisa. Além disso, as participantes da iniciativa terão acompanhamento psicológico e dicas de como apresentar seu projeto para uma banca de seleção.
Artistas e intelectuais de todo o país já declararam apoio a iniciativa Opará Saberes, reafirmando a necessidade do fomento de projetos como esse, que buscam criar espaços e redes de apoio dedicadas aos pesquisadores negros. Com essa missão os principais objetivos são fortalecer a produção científica a partir da promoção da saúde mental dos profissionais que atuam na área e ampliar suas condições materiais para desenvolverem pesquisas comprometidas com o combate ao racismo epistemológico. Por isso, o lema “Para enegrecer a universidade” visa ampliar, ao mesmo tempo, a participação de intelectuais negras na produção científica e recuperar a importância dos saberes e fazeres das comunidades negras e ameríndias no pensamento social brasileiro.
“Todo o processo de liberdade humana, seja individual ou coletiva, está ligado ao manuseio de conhecimento. O quanto aquele grupo de pessoas têm indivíduos que dominam o ato de produzir pensamento, o ato de produzir conhecimento. Isso é fundamental! Será que nós temos espaços de produção de conhecimento afrocentrado? Até porque todas as pessoas que nós conhecemos que se dedicaram à libertação tinham conhecimento.”, questiona o jornalista e apresentador de TV Manoel Soares.
O Jornalista também lembra que intelectuais como Luiz Gama, Abdias do Nascimento, Djamila Ribeiro, através da sua produção de saberes, alinhada ao projeto de combate ao racismo, contribuem até hoje no processo de enegrecimento dos saberes e disputa de narrativas dentro e fora das universidades. Essas lideranças com seus exemplos de lutas inspiram a criação de conhecimento e intervenção social para efetivação de direitos, em especial da população negra brasileira.
Edições anteriores e internacionalização do projeto
Depois das edições de 2016 e 2017, realizadas graças à parceria de intelectuais negras, o Opará Sabres retorna, em 2022, com importantes apoios institucionais, internacionalização da iniciativa e participação de professores e professoras de diversas universidades brasileiras.
A primeira edição de Opará Saberes aconteceu em 2016, pautando descolonização do conhecimento com a pensadora angolana Florita Telo e participação das intelectuais negras Zelinda Barros, Viecha Vinhático, Laura Augusta, Ana Claudia Pacheco, Denise Ribeiro, Ana Luiza Flauzina, Claudia Pons, Salete Maria, Denise Carrascosa, Livia Natália, Elisabete Pinto e Emanuelle Goes. Em 2017, em sua segunda edição, Opará contou a filósofa Djamila Ribeiro, o professor Lourenço Cardoso, Ângela Figueiredo, Cristiano Rodrigues, Raquel Luciana Souza e outras/os, levando mais de 500 negras e negros para debater o projeto de universidade que acolha e respeite a população afrodescendente. Ambas as edições aconteceram em Salvador-BA.
Agora, pela primeira vez, Opará Saberes amplia a territorialidade e, através do formato híbrido, realizará seus encontros e uma master class com convidadas internacionais. Essa expansão mira no fortalecimento da luta antirracista em escala global, acompanhada do reconhecimento e partilha de saberes dos povos negros nas diásporas como projeto político pedagógico.
Como reforça a idealizadora da iniciativa, Carla Akotirene, “O objetivo do Opará Saberes é enfrentar o epistemicídio dos pensamentos negros e garantir o ingresso e permanência de pessoas negras neste espaço de circulação de conhecimentos e de tomada de decisões políticas que são as universidades públicas e seus programas pós-graduação.”.
Romper com o eurocentrismo da academia colonial
A iniciativa Opará Saberes acredita que o projeto ocidental de universidade perde sua qualidade de formulação científica quando nega os conhecimentos e cosmopercepções dos povos negros e ameríndios. Akotirene explica que uma das motivações do Opará Saberes é a valorização e instrumentalização dos saberes trazidos por pessoas negras, com epistemologias feministas, afrocêntricas, originárias e decoloniais, contribuições desprezadas pelas universidades. “A Academia moderna é um projeto colonial, patriarcal, eurocêntrico, narcisístico e eliminatório. A universidade é responsável pela colonialidade do saber decidindo se conquistamos ou não credenciais”, afirma Carla Akotirene.
O nome do projeto é uma homenagem à deusa Opará, que na religiosidade afro-brasileira é uma das qualidades guerreiras da orixá Oxum, que reina nos rios e cachoeiras, e na filosofia ancestral africana, traduz a força do ímpeto e da sabedoria das mulheres.