Lab404 promove Oficina de Mineração de Dados e Cartografia de Perspectivas na Internet
Capacitação voltada a alunos – de graduação e pós-graduação – da Facom/UFBA ajuda a interagir melhor com o conteúdo e ferramentas da internet.
*Por Vanice da Mata
Nos dias 29 e 30 de julho, a Faculdade de Comunicação (Facom) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) recebeu alunos da oficina Mineração de Dados e Cartografia de Perspectivas na Internet, ministrada pelo Professor Dr. Fabio Malini, professor da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e coordenador do Laboratório de Pesquisa sobre Internet e Cultura (Labic). A atividade foi promovida pelo grupo de pesquisa Lab404, ligado ao Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Facom/UFBA e teve o objetivo de qualificar pesquisadores no uso de programas, scripts e plugins capazes de extrair, processar e analisar de forma interativa e dinâmica grandes volumes de dados em tempo real, gerados a partir de redes sociais.
A oficina de 8 horas teve como foco apresentar os softwares e aplicativos livres Gephi, NodeXL e Netvizz, estes últimos utilizados para extração de dados a partir do Twitter e Facebook, e o primeiro para visualização. Trinta alunos, entre graduandos e pós-graduandos da Facom, participaram da experiência. “Fábio Malini ensinou para a gente como capturar dados, minerar, visualizar e como mexer nestas visualizações, e isso é um salto qualitativo no sentido de que permite que a gente possa mexer com informações quantificadas, de verdade. Ter contato com estas ferramentas que foram trazidas para o curso é poder adicionar um lastro de qualidade ao nosso campo de pesquisa que não existe ainda na Comunicação no Brasil, mas que está sendo desenvolvido”, afirmou Thiago Falcão, doutorando em Comunicação e Cultura Contemporânea e graduado em jornalismo, entusiasta do diálogo entre as ciências humanas e exatas. “Particularmente acho que um lugar forte para a pesquisa em comunicação é se aproximar desta área da Computação porque acho que tem muita coisa boa desta combinação”, constatou.
Navegando entre os campos da Comunicação e da Ciência da Computação desde o tempo em que se graduava em jornalismo, o professor doutro Fábio Malini reconhece que no início dos anos 90, quando a internet começava a ‘dar as caras’ no Brasil, muito pouco de tecnologia existia ali. Atraído pela característica de difusão do fato enquanto notícia, aliada ao interesse de conhecer como as pessoas participam de uma “política do tempo real”, somados à capacidade que a computação tem hoje de produzir protocolos, softwares, scripts que possibilitam o acontecimento e o estudo desta política em tempo real, Malini ratifica a importância de compartilhar tais ferramentas com mais pesquisadores. “Hoje existem ferramentas que extraem os dados públicos que estão disponíveis na rede que, em geral, vão ficar numa memória que todo mundo vai esquecer. Existe uma historiografia que precisa ser produzida”, destaca o pesquisador.
E é isto que Malini e seu grupo vêm fazendo em Vitória, no Espírito Santo. Debruçados sobre o pensar e o fazer de uma cartografia dos fluxos comunicacionais, tendo como base ideias de pensadores como as do antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro e seu ‘perspectivismo’, reconhecem a necessidade de certo grau de engajamento com o objeto da reflexão. “Não adianta você ser só um pesquisador que faça pesquisa pura, teórica. Você precisa participar com o seu objeto de pesquisa. A gente faz cartografias políticas, precisamos estar dentro do campo, ser ativistas. Se a gente trabalha com telenovela, precisamos assistir telenovela, comentar telenovela, conhecer as pessoas que estão trabalhando com ela. Acho que a co-pesquisa é isto: a relação entre o pesquisador e o seu mundo, com o mundo. As ferramentas que você utiliza para isso são distintas, mas o que importa mesmo é colocar a pesquisa para dentro de um mundo social, para que também a universidade não fique desgarrada, até porque você mesmo não vai conseguir compreender os dados, o fluxo, a informação ficando de fora. Tem que estar dentro”, afirmou o pesquisador.
Fábio Malini evidenciou que quando alguém escreve no Twitter, são os seguidores daquele perfil que vão replicar o conteúdo postado. “Muitas vezes, as pessoas que replicam uma escrita não necessariamente são pessoas próximas ideologicamente àquele conteúdo. Às vezes você pode ser um petista que tem replicação de seus tweets em uma rede tucana, por exemplo”. Neste sentido é que a teoria do perspectivismo serve de lastro para os estudos do Labic, na medida em que o que ‘desenha’ o horizonte daquela ideia, a sua perspectiva, não é o sujeito que twittou algo; mas, é o ‘outro’. “O Viveiros vai mostrar na sua antropologia como o outro cria perspectiva, muito mais do que o ‘eu’, que é uma concepção bem ameríndia”, reconhece o professor.
Enquanto isso, aqui na Bahia o professor pós-doutor André Lemos, responsável pelo grupo de pesquisa Lab404, vem há 13 anos pensando a Comunicação em sua interface com a Cultura, Tecnologia e Informação. A partir de 2006, esse coletivo passou a promover estudos mais extensos voltados para a comunicação sob a perspectiva das relações. “O Lab404 está trabalhando com a discussão de big data e com a teoria ator-rede que em sua metodologia tem o que se chama ‘cartografia de controvérsias’. E esta cartografia usa muito estes dados que remetem para associações em tempo real, para a possibilidade de você ter muitos dados e, a partir deles, você visualizar a vida social. Isso é uma contribuição que as novas tecnologias trouxeram e que a Sociologia do século XIX não tinha”, explica o pós-doutor em Comunicação que, antes de passar pela Sociologia, começou seus estudos pelos campos da Engenharia Mecânica.