“É tudo novo”, de novo: livro de Vitor Filgueiras destrincha em linguagem acessível a retórica de renovação das relações trabalhistas
Pós doutor em economia, professor da UFBA coloca o debate sobre renovação do sistema capitalista e direitos do trabalho a partir da reunião de 16 anos de pesquisa
Por: Inara Almeida
O funcionamento do sistema capitalista, direitos e reformas trabalhistas são pautas que costumam ser como pedras no sapato para pessoas leigas. A falta de conhecimento faz com que muitos trabalhadores “comprem” a ideia de flexibilização dos seus próprios direitos para evitar o desemprego e consequente colapso no mercado de trabalho. É isso que Vitor Filgueiras problematiza no seu novo livro “É tudo novo”, de novo, no qual fala sobre a importância de não assumirmos esse discurso como verdadeiro, abrindo espaço para a construção de novas alternativas.
Graduado em Economia na UFBA, Vitor ingressou na carreira de auditor fiscal do trabalho e permaneceu por mais de 10 anos. “O que eu fazia era luta de classes institucionalmente por meio do estado, impondo limites à exploração do trabalho. Vivi mais de 10 anos dentro de empresas contando e vivendo todo tipo de história”, explicou o objetivo de sua antiga profissão, que abandonou para ser professor.
Depois de participar da organização de cinco livros gratuitos e institucionais sobre trabalho, o professor de Economia reuniu suas bagagens de pesquisa para produzir a primeira obra comercial. “Cheguei à conclusão de que a despeito do bom alcance que esses livros tiveram, eles não conseguiram se disseminar para um público mais amplo. Concluí que um livro comercial com uma editora grande teria um papel mais interessante nesse sentido”, conta.
Junto a editora Boitempo, Vitor Filgueiras lançou “É tudo novo”, de novo no início deste ano. Na obra, o autor analisa a narrativa das grandes transformações produzidas pelo sistema capitalista e desnuda questões cruciais, como a legitimação da destruição dos direitos trabalhistas e o aprofundamento da assimetria entre capital e trabalho.
Em bate-papo no canal de jornalismo democrático TV 247, Vitor discorre sobre o seu livro e a estratégia reiterada de alegar que as coisas estão mudando para justificar práticas empresariais que causam aumento da desigualdade e piora das condições de trabalho. O professor-pesquisador afirmou que, à medida em que as pessoas assumem o “discurso do adversário”, como a ideia de que o direito do trabalho gera desemprego ou que a terceirização é a externalização das atividades, cai-se em um encruzilhada.
O economista garante que o livro foi pensado para atingir o público não especializado, que tenha alguma simpatia ou interesse sobre o mundo do trabalho. “O livro tem só 200 páginas, poucas referências e, apesar da teoria por trás dele, há pouca discussão teórica. É prático, direto e objetivo. A missão deste livro é colocar o debate, a partir da reunião de 16 anos de pesquisa.”, diz.
OUTROS PROJETOS
O empenho de Vitor Filgueiras em falar sobre o trabalho e defender direitos trabalhistas pode ser observado além do seu livro. O professor coordena o projeto Caminhos para o Trabalho, uma parceria entre o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Universidade Federal da Bahia, cujo objetivo é prestar assistência aos trabalhadores de forma gratuita. No final do ano passado, o projeto venceu uma ação contra a empresa Uber Eats e um entregador teve o vínculo de trabalho reconhecido.
Vitor também coordena o projeto Vida Após Resgate, também fruto da aliança entre o MPT e a Faculdade de Economia da UFBA. A finalidade é estudar o destino dos trabalhadores resgatados do trabalho análogo ao escravo na Bahia e Mato Grosso do Sul. O programa busca viabilizar a inserção desses trabalhadores na produção rural autônoma, a fim de reduzir a vulnerabilidade dos mesmos.
O professor também faz parte de um programa semanal chamado Trabalho para Quem?, com notícias, análises e debates sobre o mundo do trabalho no canal da Rede TVT. O projeto foi iniciado no dia 10 de fevereiro e temas como Empreendedorismo (ou será precarização do trabalho?), Reforma trabalhista: Qual é o rumo dessa prosa? e Trabalho análogo ao escravo do Brasil: Qual a saída? já foram abordados.