“O que Martim Gonçalves veio fazer na Bahia?”
Pesquisadora desmistifica história e polêmicas nos 100 anos do fundador da Escola de Teatro da UFBA
Por Madson Souza
“O que Martim Gonçalves veio fazer na Bahia?” foi a pergunta que guiou o centenário de um dos maiores nomes do teatro brasileiro e baiano. A vida do diretor, cenógrafo, figurinista, produtor e crítico é o objeto da palestra de Jussilene Santana, atriz, pesquisadora e diretora do Instituto Martim Gonçalves.
“Martim precisa viver aqui, sim! Como está vivo no Rio, em São Paulo e Pernambuco”, a palestrante ressaltou essa narrativa. ”O que me interessa hoje é fazer essa história circular de alguma de forma”, concluiu e por isso, o evento: “É tudo verdade. Martim Gonçalves, 100 anos. Um legado”, realizado na última terça (27), na Escola de Teatro da UFBA (Etufba).
Cláudio Cajaíba, diretor da Escola de Teatro da UFBA e do Teatro Martim Gonçalves, concordou. “Não adianta querer ir para frente sem saber o que está atrás de nós. O fato de hoje a gente saber fazer teatro, saber ensinar teatro, se deve a alguém. E tudo isso é muito importante que a gente reconheça”. E continuou: “porque artisticamente também somos miscigenados, temos um DNA e precisamos reconhecer ele, para na hora dos adoecimentos saber que remédio tomar”.
Escola de Teatro
Do nascimento até a morte, a história do importante personagem do teatro baiano foi contada por meio de slides com fotos e falas da apresentadora. Dando destaque ao momento da fundação da primeira Escola de Teatro no país ligada a uma instituição de nível superior – a UFBA – e o percurso de seu criador na Bahia.
Raimundo Matos, professor da Etufba, também reforçou a relevância de Martim Gonçalves. “Ele é fundamental para a Escola de Teatro. Como pessoa que administrou e também diretor artístico da escola, ele formou uma geração de atores e diretores que se espalharam para além das fronteiras da Bahia. Possibilitou que a escola continuasse, mesmo enfrentando momentos de crise, e ela consolidou-se a partir deste projeto. E, por isso, ele está aí até hoje existindo”, encerrou.
Para reforçar o legado e inventividade do autor, Jusseleine Santana contou sobre a experiência de Martim nos palcos. “Ele sabia que a gente aprende teatro no palco, na prática. Por isso, misturava atores experientes com novatos”. Suas referências para a fundação do espaço, em 1956, vem dos EUA, logo, afirmou Jussilene Santana que “A Escola de Teatro da UFBA nasce americana”.
Além da sua relevância para outros fatos futuros, como: a criação do Museu de Arte Sacra e do CEAO (Centro de Estudos Afro Orientais).
O Personagem
A pesquisadora Jusseleine Santana trabalha por meio da triangulação: imprensa, depoimentos e documentação, como método para estudar a vida de Martim. E assim revelou detalhes pouco conhecidos da história do personagem.
Chamado muitas vezes de “crânio do teatro”, por falar de política e economia sempre puxando os assuntos para sua área., também é reconhecido como um grande negociador. O que é uma de suas marcas durante seu período em Salvador, dos 36 até os 41 anos de vida.
Um dos momentos de destaque da palestra foi a apresentação, em 1º mão, da gravação de Martim dos cânticos da casa de Oxumaré. Considerado um raro documento da sua relação com o teatro e o Candomblé.
Epílogo
Antes do início do conteúdo planejado ocorreu uma intervenção artística não programada, que foi interrompida por Jussilene Santana e gerou incômodo para ambas as partes. A apresentadora não gostou da participação fora do script e o performante não curtiu a interrupção. Mas, terminou sua apresentação.
Posteriormente, um curto depoimento gravado de Wagner Moura foi apresentado. No vídeo, ele reforça a importância de Martim para o teatro.
Aplausos, agradecimentos e velas
No início da palestra foram distribuídas pequenas velas para o público, que foram usadas ao fim da apresentação e do debate. Em uníssono as velas foram apagadas e um agradecimento foi proclamado para Martim Gonçalves.
“Fico me perguntando o que faria Martim Gonçalves se estivesse vivo aqui e agora. Com certeza ele batalharia muito pelo campo da arte e do teatro. Porque é um campo bombardeado. Não só pelo que vem de fora. Se a crítica não vem de dentro, um dia vai vir de fora para nos derrubar”, argumentou Jussileine Santana.
“A área da arte precisa entender qual é o seu grande objetivo na orbe das ações dentro de uma sociedade. Acho que é isso que a gente devia relembrar neste centenário”, concluiu.