Museu Afro-Brasileiro da Ufba comemora 30 anos com exposição

Por Itamar Ferreira*

 

O Museu Afro-Brasileiro da Universidade Federal da Bahia (Mafro- Ufba) inicia suas atividades para comemorar os seus 30 anos de existência com a exposição A infância nas mãos.  A exposição de brinquedos populares faz parte da coleção de David Glat, e é uma pequena amostra da grande coleção do artista. O período de visitação vai até o dia 1º de fevereiro.

 

“A programação comemorativa vai acontecer ao longo do ano, projetos serão elaborados para arrecadar recursos financeiros para a realização dos projetos”, afirma a coordenadora do museu e professora do curso de museologia da Ufba, Graça Teixeira.

 

A agenda para as exposições não está completamente com as datas definidas, pois além da captação de verbas, tem a dependência em relação aos artistas que vão expor suas peças. Dentre as exposições confirmadas, estão a exposição de máscaras, também da autoria de David Glat, a exposição Caboclo de Itaparica, que tem como curador Justino Marinho e o trabalho da artista Joana Flores também será apresentado no museu, a artista elabora um trabalho sobre as cordeiras do circuito do carnaval, retratando a questão da mulher e de sua força.

 

Pesquisa e produção imaterial também estão incluídas na programação. Um grupo de estudo de museologia está sendo formado junto com o circuito Pelourinho de museu, a partir desses estudos acontecerão pequenos seminários. Uma revista eletrônica está sendo elaborada para ser lançada no final do ano. A revista trará textos de professores da Ufba que colaboram com o museu, sobretudo, os professores do curso de museologia e textos dos alunos que trabalham com a mesma temática do Mafro. O plano museológico do museu está sendo projetado para seguir as normas do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). “Essa é uma das grandes metas do ano”, diz a coordenadora do Mafro.

 

Parcerias

Os recursos financeiros são fundamentais para a manutenção das atividades do Mafro, todavia, outros recursos indiretos também ajudam a manter o museu, esse recurso de força de trabalho vem através das parcerias que o Mafro mantém com outras instituições, artistas e acadêmicos. O jornalista Fernando Coelho é um dos apoiadores do espaço, ele escreveu o texto de abertura da exposição A infância nas mãos. “Se a gente fosse pagar seria muito caro, inviável para o museu”, diz Graça Teixeira.

Uma parceria foi firmada com o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE), que funciona no subsolo do prédio, construindo uma escada ligação entre os dois museus. A partir de então passaram a trabalhar em conjunto, uma única portaria atende os dois museus e é cobrado somente um ingresso para visitação, isso fez aumentar o número de visitação.

O museu está diretamente ligado ao Centro de Estudos Afro-Orientais (Ceao), que por sua vez, tem parceria com a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. O diretor da faculdade, professor João Carlos, tem dado muito apoio nas atividades do museu. Os projetos de pesquisa do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), Sistema Permanecer da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil da Ufba dão assistência a produção acadêmica do museu.

A Secretária de Cultura de Portugal firmou uma parceria em 2011 com o Mafro, enviando três estudantes bolsistas para contribuírem nas áreas de conservação do acervo e restauração e web design. O intercâmbio durou oito meses.

Muitas redes estão interligadas ao museu, resultado das parcerias, a mobilidade de peças de exposições vem sempre acontecendo junto a outros museus.

Museu

“Em 1982, o Museu foi aberto para o público. Quando o museu surgiu teve uma grande participação da comunidade afro-baiana. Foi um momento em que o local estava recebendo acervos e peças. Os terreiros de Candomblé e associações de Capoeira doaram muita coisa para o acervo”, explica a museóloga, Maria Emília Neves. “Sempre acontecia aqui no museu uma série de atividades, como lançamento de livros, exposições temporárias. Era um espaço onde a comunidade aproveitava para ter contato direto com o museu”, ressalta a museóloga.

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Após quinze anos de existência o museu passou por momentos difíceis, precisando reformar toda sua parte interna e sua museografia que já estava ultrapassada. Por contas das obras o local ficou fechado por dois anos e reabriu com uma nova montagem, com um novo projeto expográfico.

O museu perdeu alguns espaços por conta de discussões com a Faculdade de Medicina, surgiu uma proposta de que o museu não deveria permanecer no prédio. A sala que é hoje da “exposição temporária” ficou fechada por cinco anos. “Isso fez o museu se retrair dessas atividades que tinha com a comunidade”, afirma Maria Emília Neves. O Mafro voltou para outro momento, para se dedicar ao acervo, construir uma reserva técnica adequada para armazenar as peças. Antes todas as peças ficavam em exposição, fazendo com que parte da coleção se degradasse, por conta da exposição à luz e poeira e as atividades dos insetos. Foi desenvolvido um projeto com apoio do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) para recuperar, manter e conservar as peças do acervo. Hoje o museu tem uma reserva técnica totalmente dentro das normas do Ibram.

Até 2009 o prédio estava em reforma, por isso precisou ser fechado algumas salas. Em 2010 a restauração da parte física do prédio terminou. Desde o ano passado a sala de “exposição temporária” voltou a funcionar com a exposição de Hélio de Oliveira. O ambiente também recebeu a exposição O Compadre de Ogun, serigrafias do artista plástico Carybé, e Homens-Máscaras, fotomontagens do artista francês River Dillon. “Agora a gente espera dinamizar esse espaço que ficou muito tempo fechado”, diz Maria Emília.

Transformar o espaço do museu em laboratório de conhecimento é uma meta da coordenação do espaço. “A gente quer transformar esse espaço, não em um espaço para visitantes, mas espaço de usuários”, diz Graça Teixeira.

Exposições

África e Religiosidade Afro-Brasileira são as temáticas das exposições de longa duração do Mafro, dividido em três salas do museu. No espaço da África podem ser encontradas informações sobre o continente africano e o tráfico de escravos. As experiências culturais e manifestações artísticas. No espaçoReligiosidade Afro-Brasileira estão expostos elementos da religião afro-brasileira na Bahia, peças e informações sobre divindades e sacerdotes do culto afro. Peças de Carybé, retratando os orixás, encontram-se expostas em uma sala especial.

Para a museóloga Maria Emília, o museu precisa modifica parte de sua expografia, renovar a exposição de longa duração, mas para isso é necessário criar projetos e concorrer nos editais.

Desde o ano passado o Mafro recebeu a coleção do Museu Estácio de Lima, que pertence ao Departamento de Polícia Técnica do Estado, mas o local ainda não tem condições necessárias para guardar o acervo.

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*Estudante de Produção Cultural da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom

 

 

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