Naomar de Almeida discute o legado de Anísio Teixeira para a Cultura e Educação
* Por Igor Tiago
Um dos personagens centrais da história da educação do Brasil foi tema da palestra de abertura no 1º Seminário Cultura e Diversidade. Anísio Spínola Teixeira nasceu em Caetité, na Bahia, em 1900. Nas décadas de 1920 e 1930, difundiu os pressupostos do movimento da Escola Nova, que tinha como princípio a ênfase no desenvolvimento do intelecto e na capacidade de julgamento, em preferência à memorização. Responsável por reformar o sistema educacional na Bahia e no Rio de Janeiro, Anísio Teixeira fez parte de uma formação autodidata e é considerado o principal idealizador das grandes mudanças que marcaram a educação brasileira do século XX. Foi pioneiro nas discussões de cultura e de educação, envolvendo-se na implementação de escolas públicas de todos os níveis, que refletiam seu objetivo de favorecer educação gratuita e obrigatória a todos.
Ministrada por Naomar de Almeida Filho, Médico, Mestre em Saúde Comunitária, Professor Titular e ex-reitor da Universidade Federal da Bahia, a palestra contou com a participação de Cláudia Leitão (Secretária de Economia Criativa – MinC), Américo Córdula (Secretário de Políticas Culturais Substituto – MinC), Bernardo Novaes Machado (Secretário de Articulação Institucional Substituto – MinC) e Pedro Azevedo Vasconcellos (Diretor da Cidadania e da Diversidade Cultural – MinC). Além da biografia e dos textos de Anísio Teixeira, encontrados em sua biblioteca virtual, Naomar expôs as reflexões do educador em relação ao ensino no Brasil, abrindo para os comentários dos participantes da mesa. Diversidade cultural, formação, práticas populares e linguagens artísticas foram alguns dos temas abordados no encontro.
Como teórico da educação, Anísio evoluía seus próprios conceitos de cultura, arte e educação. “A educação é uma arte. E arte é algo de muito mais complexo e de muito mais complexo que uma ciência”, dizia. Textos que tratavam da relação e da opinião de Anísio com a educação foram exibidos durante a palestra, assim como a sua contribuição para a educação brasileira. Nos anos 50, dirigiu o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, INEP, órgão do governo federal que, no governo de Fernando Henrique Cardoso, passou a se chamar Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Desenvolveu e foi primeiro dirigente da Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, atual CAPES, criada em 1951 pelo presidente Getúlio Vargas.
Suas concepções ainda hoje são pensadas e estruturadas para a melhoria do atual sistema curricular universitário. A “universidade Ansiana” (pensada por Anísio) devem conter as seguintes características: inclusão social, massificação, uso intensivo das tecnologias, integração ao sistema de educação pedagógica da autonomia criativa, desafiadora, ousada, internacionalização, epistemo-diversidade e sustentabilidade. São características essenciais para a formação de uma instituição superior de ensino. Os Bacharelados Interdisciplinas, modalidade de formação que atualmente faz parte de 15 universidades brasileiras, como a UFBA, parte de um pensamento embrionário da “estrutura curricular dos cursos das universidades” de Anísio Teixeira.
Junto a Darcy Ribeiro, o educador foi um dos idealizadores do projeto da Universidade de Brasília (atualmente a primeira universidade em pesquisa do Brasil), inaugurada em 1961, da qual veio a ser reitor em 1963, mas afastado após o golpe militar de 1964. Anísio sempre foi defensor da universidade aberta, de uma ampliação do acesso e de uma mudança radical na estruturação curricular, pensando num espaço com criador, criativo e inovador. “Todos podem fazer arte e todos podem produzir conhecimento”, conclui Naomar.