Como a pandemia afetou quem vive de forró?

O que para muitos é só diversão, representa o ganha-pão para diversos artistas

Por Laiz Menezes*

O forró, um dos símbolos culturais do Nordeste, representa o ganha-pão para diversos artistas. Mas, devido à pandemia da Covid-19, as festas de 2020, como as celebrações juninas, tiveram de ser adiadas. Para entender o quanto a falta dessas celebrações afetou quem vive delas, a Agenda conversou com a banda forrozeira baiana Tio Barnabé, que está há 16 anos na estrada e se mantém, em grande parte, com o que trabalha nessa época. Quem bateu um papo com a gente foi Rapha Ribeiro, um dos vocalistas.

(foto: acervo pessoal)
(foto: acervo pessoal)

O que o forró e a festa junina representam na vida de vocês?
Representam tudo. O forró e o São João são a personificação do nosso trabalho, de tudo que a gente faz, tudo que plantamos e construímos nesses 16 anos de banda. Nós respiramos e vivemos forró. Nossas influências principais são os precursores desse ritmo: Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Santanna, Jackson do Pandeiro. Forró pra gente é o ano todo, seja carnaval, natal, réveillon, para gente todo dia é São João.

Como está a agenda daqui pro fim do ano e como estava prevista antes?
A agenda ainda é uma incógnita, não podemos afirmar com será, mesmo que a expectativa seja boa para o retorno aos trabalhos. Tínhamos uma agenda bem gorda para o mês de Abril, Maio e com o mês de Junho, principalmente o período junino, todo fechado e estávamos para fazer mais do que os 31 shows que fizemos no mês de Junho no ano passado.

Como você acha que vai ser essa retomada?
O ano de 2020 para nós, seria o ano da colheita, já que essa nova formação fez um 2019 maravilhoso e pretendíamos alçar vôos ainda maiores, contudo, veio a pandemia e adiou os nossos planos que estamos esperando avidamente para colocá-los em prática novamente.

As lives feitas durante a pandemia ajudaram de alguma forma a suprir a ausência dos shows?
Ajudou um pouco, mas não totalmente, porque todo artista gosta muito do calor humano e estamos sentindo muita falta do grito, do abraço, de ver as pessoas dançando, se divertindo e também da gente na estrada. É muito difícil interagir com uma câmera, com a produção, ficamos muito presos. Mas mata a saudade que temos de cantar, de fazer música, levar entretenimento para o público e, de uma forma ou de outra, conseguimos matar nem que seja um pouquinho essa saudade. Eu acredito que, quando isso tudo acabar, esse “negócio de live” vai ficar esquecido, pela saudade que os artistas estão sentindo do palco.

 

Qual foi o impacto da falta das festas, como o São João, este ano na vida de vocês?
O impacto foi muito negativo por vários motivos que não afetam somente a Tio Barnabé, mas também todos os nossos colegas profissionais da área que têm o São João como décimo terceiro, que é o  período em que mais faturam e trabalham. Fica muito difícil manter uma equipe de pé, já que vivemos disso e são quatro meses sem trabalhar, sem fazer show. Então, muitas bandas vão fechar as portas, muitas já estão fechando e muitos músicos estão passando dificuldade. A gente está se “virando nos 30”, “rebolando” para manter nossa equipe, para poder ajudar da melhor forma possível, já que para a empresa é difícil e para eles também. Ou seja, nesse aspecto financeiro atrapalhou muito.

Qual a perda cultural para a Bahia ao ter um ano sem os festejos juninos?
O São João é a maior identidade cultural da Bahia, é a maior festa, é a que traz mais renda para as cidades, além de mexer com toda a população e é muito difícil ver esse estado sem os festejos juninos. Eu e toda a turma que é forrozeira, que espera o ano todo para curtir em junho, nas férias, a sensação é de luto, como se alguém tivesse morrido, parece que perdemos alguém da família. O São João não é apenas uma festa profana, que você só vai para dançar e beber, mas é uma ocasião que reúne família, pessoas que moram na capital, em outras cidades, retornam e se aproximam, confraternizam nesta data. Então muita gente está triste, famílias que não puderam ver os seus entes queridos. É um prejuízo não só financeiro, mas emocional e histórico.

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