Petit Abel: Conheça o artista por trás das ilustrações do BBB20
Conheça a trajetória de Abel Marcelino, formado em BI de artes e Design na UFBA
Por Geovana Oliveira*
Na vigésima edição do BBB, os fãs do programa receberam de presente ilustrações dos seus participantes favoritos. Babuzinho, Manuzinha, Thelminha e muitos outros, geralmente no diminutivo pelos traços infantis, foram desenhados pelo também “pequenininho” Abel Marcelino. O apelido Petit Abel, que o ilustrador baiano ganhou por causa do seu tamanho, agora é conhecido pelas mais de 45 mil pessoas que o seguem no perfil do Instagram.
De Tucano, cidade no sertão da Bahia com cerca de 50 mil habitantes, Abel não esperava a visibilidade. “Eu estava com menos de dois mil seguidores e ficava ‘Será que eu vou completar três mil?’ Era só isso.” Formado em BI de artes e Design pela UFBA, começou a postar desenhos nas redes para ter um lugar onde pudesse se expressar.
Antes mesmo do boom das caricaturas do BBB, algumas de suas artes sobre questões sociais tiveram grande repercussão. O desenho que fez sobre os incêndios na Floresta Amazônica chegou a ilustrar uma reportagem do Público, um dos jornais referência em Portugal. Rodou o mundo. Um dia respondia recados em português, no outro, comentários em italiano.
https://www.instagram.com/p/B1Z_ssPp2jm/?igshid=l4829aomeeyv
Abel encontrou através do ativismo nas ilustrações uma forma de dizer o que não conseguia com as palavras. Desde a infância tem contato com esses temas, principalmente a representatividade. Além de criança gorda e LGBT, precisou seguir os pais para São Paulo, onde virou “o baiano”. Quando ia comprar um brinquedo, assistir algum programa, ou jogar vídeo game, via personagens que eram o contrário dele: loiros, altos, magros e malhados. “Isso me deixou inquieto até eu conseguir achar um local de ação na universidade”.
Brasília amarela
Mas antes de voltar para a Bahia e entrar na federal, Abel ainda morou com os pais em Curitiba. Em uma brasília amarela, seguiram o fluxo de trabalho pelo sudeste até voltar para Feira de Santana, onde mora a avó do ilustrador. Continuando suas migrações, mudou para Salvador quando passou no vestibular. Na época trabalhava na C&A e conseguiu fazer a transferência para a loja da capital. “Eu falei: ‘pelo menos morrer de fome eu não vou’”.
Foi pelo ativismo que começou a ilustrar o BBB20. Ele ainda não assistia o programa, mas resolveu desenhar quando viu um vídeo dos participantes Guilherme Napolitano e Gabi Martins. Estava sendo discutido um possível relacionamento abusivo entre os dois. “Como sou uma pessoa criada em UFBA e em BI, a militância se instalou aqui e não sai mais”, brinca. Fez a ilustração e postou no Instagram. No outro dia, o desenho estava em páginas como Quebrando Tabu e Mídia Ninja, e Petit Abel se tornou o ilustrador extra-oficial do reality show.
“Veio essa onda de coronavírus, a energia do mundo meio que baixou, aí eu pensei: ‘vou fazer coisas que são mais positivas então’”. Assim surgiram as fanarts coloridas e engraçadas. Mas sem deixar a representatividade de lado. Os Babuzinhos de pijama, pulando e fantasiados, como personagens infantis, foram desenhados para mudar a fama de malvado que o participante Babu Santana recebeu no programa. “Existia muito preconceito velado por trás, então eu comecei a subverter aquela imagem dele”.
Mas foi Thelminha, a atual campeã do BBB, sua preferida durante o reality. Não podia ser diferente, até o apresentador Tiago Leifert discursou: representar é o que ela faz de mais bonito. “Sou suspeito para falar de tudo que leva uma ‘minoria’ a chegar em um local de fala que é dominado por uma ‘maioria’. Eu fico feliz.”
Mas essa não foi a primeira vez que Abel, hoje com 31 anos, ganha repercussão pelo programa. Em 2010, antes mesmo de passar no vestibular, o que começou como uma brincadeira no Twitter rendeu a ele o primeiro trabalho com arte. Uma das participantes, Angélica Morango, depois de sair da casa o procurou para ilustrar seu livro de contos Quebrando o Aquário. Ele fez, e até acompanhou a ex-bbb em uma tarde de autógrafos em Salvador. “Eu nem sabia trabalhar”.
Foi assim que Abel viu uma chance de se sustentar com o que gostava de fazer. Ele cresceu desenhando os personagens de seus programas favoritos, mas não recebeu apoio da família. “Ser artista não dá dinheiro”, era o que ouvia. Chegou até a prestar vestibular para Administração. Ainda bem que não passou.
“Um dia eu me retei e falei ‘que nada, eu vou seguir minha área, não quero nem saber’”.
“Quem são eles para me dizer que desenhar não dá dinheiro e quem sou eu para desistir sem nem tentar?”, foi o que pensou quando decidiu prestar vestibular para Design. Hoje ele concilia o trabalho de designer em uma empresa com as ilustrações no Instagram, mas já consegue até arriscar um plano para se sustentar só com o Petit. Sua agenda de encomendas de caricaturas está fechada e só abre novamente em junho. Tem vezes que recebe cerca de trinta mensagens por minuto e em menos de uma semana ganhou mais de vinte mil seguidores no perfil do Petit Abel.
Mas ele deixa claro: “Nada que me tire o pé do chão, porque na internet é tudo muito rápido, tanto a ascensão quanto a queda.”