Plantar para colher: benefícios e dicas de cultivar no isolamento
Biólogos e “pais de plantas” dão dicas para cultivo de hortinhas e plantas paisagísticas
Por Luana Lisboa
Semear, regar, colher, adubar, estar presente para todos os processos. Para algumas pessoas, o sentido dessas palavras, conjuntas ou isoladas, pode parecer distante e inexpressivo. Não é o caso de Yago Castro, 28 anos, funcionário em uma empresa ligada à área hospitalar. Até abril do ano passado, cuidar de plantas nem era uma possibilidade. Oito meses depois, ele conta 40 espécies de cactos e suculentas em sua casa.
Foi assim: em maio, ele resolveu entrar em contato com um amigo cultivador para dar as plantas de presente no Dia das Mães. Só que passou a cuidar do “presente” e no mês seguinte comprou mais 5. Depois, mais 5. E mais 5. Fez uma prateleira para organizar os vasos e, vez ou outra, retira as folhas secas, muda de vaso quando necessário e rega uma vez na semana. Criou até uma página no Instagram para catalogá-los, o @pai_de_plantas. “Hoje estou com a mente mais tranquila em relação à época que comecei a cuidar das plantas. Foi e está sendo muito satisfatório vê-las crescer e se proliferar”, relata.
Já Melissa Sampaio cultiva plantinhas desde o falecimento da avó, que passou a paixão para ela. O isolamento só intensificou a necessidade que ela tinha de trazer o verde de fora da casa para dentro. “Essa foi uma das maneiras que encontrei para me conectar com as lembranças que tenho dela e manter em mim algum traço de alguém que foi tão especial na minha vida”, conta a estudante de Geologia da UFBA, que cuida de cactos, um lírio da paz, duas jibóias, uma zamioculca e uma babosa.
Benefícios de via dupla
“É gratificante observar o desenvolvimento delas e saber que de alguma maneira estive presente nesse processo”. O sentimento de Melissa é semelhante ao de Yago e é reconhecido por Lorilay Borges. Especializada em Psicologia Hospitalar, Lorilay avalia que o contato com a natureza dentro de casa não só representa um local de prazer e bem estar físico e emocional, como também convoca nossa capacidade de reinvenção e respeito aos nossos processos internos.
“As plantas mostram que mesmo indo muito mal, ou até mesmo chegando a morrer, podem se recuperar e renascer – experiência própria com uma Caladium. Recuperar uma planta doente ou apenas cuidar das que estão bem e vê-las se desenvolvendo pode atenuar a sensação de incapacidade”.
Com o exercício da atenção plena na tarefa, o cultivo também convoca o indivíduo a uma pausa no seu dia atribulado de trabalho e informações, a cuidar do jardim, diminuindo o nível de estresse e permitindo o relaxamento corporal e mental.
“O estado de presença ao cuidar da planta melhora a capacidade de atenção e pode proporcionar alívio ao tirar o foco de pensamentos negativos, temporariamente. E por falar em tempo, a prática do cultivo nos ensina o contrário do imediatismo que o mundo vem apresentando cada vez mais: é preciso esperar a semente crescer, o processo é longo – respeitar nossos processos internos é imprescindível”, explica Lorilay.
Cultivando hortas urbanas
Cientes dos prós do cultivo de plantinhas em casa, esse é o momento para quem quer pôr a mão na massa. Aí vão as dicas do pesquisador em Ecologia e professor de Biologia, Uiré Penna sobre as hortas domésticas.
- Estude sua área de plantio. “Você tem que entender exatamente qual o melhor espaço da sua casa para cultivar, onde tem luz, onde é ventilado, onde é fácil para você irrigar. Se é um local que tem muita salinidade pode prejudicar, principalmente pra gente aqui de Salvador, perto da Orla, onde o vento vem com muito sal, então, pensar em criar barreiras de vento”, explicou o pesquisador.
- Prepare um solo que seja preferencialmente orgânico. E é importante enriquecer esse solo. “Minha sugestão é que a gente utilize sempre adubos orgânicos para termos maior segurança alimentar, como o esterco de gado, húmus de minhoca, composto orgânico, tudo isso é importante para um cultivo equilibrado”, expõe Uiré.
- Diversifique. “Ao invés de plantar uma coisa só, cultive várias. Quanto mais diverso, melhor será”. Em casa, são de simples cuidados o manjericão, pimentão, pimenta, plantas que requerem uma quantidade de luz maior. Para as casas menos iluminadas, o biólogo indica cebolinha, hortelã miúdo e o graúdo de borda branca. “Esse último ainda tem potencial paisagístico, embeleza a casa”, conta.
Especificamente durante o verão, o pesquisador menciona as frutíferas familiarizadas ao calor: plantas da família Cucurbitaceae, a família da abóbora, do pepino: “são plantas que resistem bem ao verão do Nordeste, que tem muito líquido dentro dos frutos, e um potencial nutritivo muito grande”. Também amora, acerola, jabuticaba, pitanga, que podem ser cultivadas em vasos; e manga, cajá, jambo e abacate, que são árvores, que devem ser plantadas no chão.
Já o estudante de Ciências Biológicas da UFBA, Marcelo Alexandrino, sugere, aos que estão começando a se aventurar no mundo da horticultura, uma dica divertida: “vá bem cedo em uma feira e compre alguns temperos ainda bem frescos como cebolinha, hortelã grosso, gengibre e experimente plantá-los nos vasos na janela da cozinha, talvez”. São plantas que se propagam por estacas e rizomas e, por isso, os resultados ficam aparentes mais rapidamente. “É bem motivador para quem está nesse caminho de aprender a cultivar”.
Cuidando de plantas decorativas
Para os que cultivam as paisagísticas, assim como Yago e Melissa, as dicas são diferentes. Quem cuida de várias espécies delas é Matheus Mattos, estudante de Odontologia e dono de dracenas, samambaias, espadas de ogum, jiboias, tapetes de oxalá, babosas, cactos, suculentas e árvores da felicidade há mais de 5 anos. A rotina com elas é simples: sempre que necessário, rega e conversa com elas. Sim, a conversa também é importante. “Conversar com as plantas é uma coisa muito boa, é perceptível o desenvolvimento da planta quando você doa amor e tempo pra elas”.
Aos que ainda não iniciaram a prática, ele dá a dica de começar por plantas que não requerem tanta atenção, como a espada de ogum e as suculentas, pois não precisam de muita água ou uma terra muito bem adubada. “Além disso, para quem acredita, como eu, cada planta possui uma função energética característica dela, algo muito pessoal de cada espécie. A espada de ogum, por exemplo, é excelente para ter na entrada de casa porque serve como proteção. A árvore da felicidade traz amor, paz, prosperidade e felicidade para dentro da casa”.
Yago, por sua vez, dá orientações específicas sobre as suculentas: não regar muito e manter o abstrato aerado. Se na sua casa bate muito sol, evite expor as plantas em horários em que a iluminação esteja forte, pois pode queimá-las. “Se na sua casa não bater muito sol, as suculentas de meia sombra são as melhores para o cultivo, mas em locais claros”.
E Melissa finaliza: “É importante conhecer as suas plantas e entender que diferentes espécies se adaptam a ambientes de diferentes formas. Cada planta tem sua singularidade e se você deseja que elas se desenvolvam bonitas e saudáveis deverá separar um tempo da sua rotina para se dedicar ao cultivo”.
Para aprofundar no assunto:
Matheus indica o canal do Youtube “Vila Nina TV” (111) Vila Nina TV – YouTube
Ouça o áudio na íntegra do biólogo Uiré Passos sobre cuidados com as plantas
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5 aplicativos sobre jardinagem: Cuidar de plantas: 5 aplicativos de jardinagem e paisagismo (maistim.com.br)