PRO.SOM: Acessibilidade e Inclusão Social na UFBA

Projeto de pesquisa produz audiolivros e legendagem de filmes em LIBRAS; adaptação da peça africana “A Acendedora Lampiões” foi publicada pela EDUFBA

Por Lucas Arraz

Criado em 2008, o grupo de pesquisa PRO.SOM –  “Tradução, Processo de Criação e Mídias Sonoras” – tem levado lazer e conhecimento para deficientes visuais, auditivos e analfabetos, através da produção de audiolivros. O projeto foi apresentado durante o último dia de atividades do Congresso UFBA 70 Anos, com a participação dos integrantes do projeto, Flávio Ferrari, Sirlene Goés e Saryne Rhayane. Entre os trabalhos expostos, estão as adaptações para áudio dos livros “Guerra dos Mundos”, publicado em 2015 pela EDUFBA,  e “A máquina do tempo” do autor H. G. Wells, em fase final de produção. Foram apresentadas, ainda, a adaptação radiofônica da peça africana “A Acendedora Lampiões”, também publicado pela  Editora da UFBA,  além de uma iniciativa que promete legendar filmes para a Linguagem Brasileira de Sinais (LIBRAS).

Quando finalizadas, essas obras passarão por um teste de recepção com o público-alvo e serão publicadas pela EDUFBA, com distribuição gratuita para institutos que trabalham com deficientes visuais e auditivos. Para Flávio Ferrari, a distribuição gratuita e a recepção das obras são a melhor parte de um extenso trabalho que agrupa a tradução do texto original, criação do roteiro adaptado, contratação de atores para a leitura do roteiro, a gravação do texto adaptado, a edição e, por fim, a publicação.

Foi exatamente Flávio Ferrari, coautor do áudio livro “Guerra dos Mundos”, quem explicou esse extenso processo que leva até a publicação de um áudio livro: “Mais que ler o livro, temos que estudar a adaptação da obra. Precisamos condensar uma narrativa de 400 páginas em apenas 30, afinal, ninguém quer ficar ouvindo um áudio de 30 horas”. O trabalho de tradução e adaptação envolve, ainda, a atualização do texto para os dias atuais, como a troca de carroças por carros: “Atualizamos o texto para os dias de hoje, trocamos descrições extensas de objetos e situações por efeitos sonoros e damos importância a personagens que são muitas vezes esquecidos […]. O processo é muito mais do que ler o livro pelo microfone”. O projeto de “Guerra dos Mundos”, como outros do PRO.SOM, tem parceria com alunos de teatro da UFBA que dão voz e vida aos personagens. Quando lançado, garante Flávio Ferrari, “será a primeira adaptação em forma de peça radiofônica da obra feita no Brasil”.

Para além dos áudio livros, o PRO.SOM, projeto coordenado pela professora Silva Guerra, “cria vertentes para muitos lados”, como contou Saryne Rhayane. Ainda durante o evento, a doutoranda Sirlene Góes destacou a importância da legendagem em LIBRAS nas produções cinematográficas. Segundo a pesquisadora, o censo do IBGE de 2010 identificou a presença de mais de 9,7 milhões de brasileiros com alguma deficiência auditiva; desses, cerca de 344 mil são completamente surdos. “Desde 2012, a Linguagem Brasileira de Sinais é reconhecida como um meio legal de comunicação e também como uma língua maternal do Brasil. O Brasil, portanto, têm o português e as LIBRAS como linguás oficiais. Se você vai legendar um filme internacional para o Brasil por que não coloca-lo também em LIBRAS? Filmes são importantes para a formação de um cidadão e isso não pode ser vedado ao público surdo’’, defende Sirlene. 

O PRO.SOM acredita que é o acesso a obras como livros, filmes, jogos, espetáculos, cursos online, séries e novelas que garante autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social para deficientes auditivos e visuais. Por isso, o projeto da professora Dr. Sílvia Maria Guerra Anastácio foi descrito pelos estudantes pesquisadores da mesa como um “Polvo que está sempre pronto para abraçar mais alguma coisa”. Atualmente, além de todas essas obras, o PRO.SOM trabalha no desenvolvimento de um audiolivro de receitas e um audiolivro-cartilha que dará informações sobre a microcefalia para deficientes audiovisuais e famílias analfabetas carentes de informação sobre o assunto.

Confira um trecho do audiolivro “Acendedora de Lampiões”, adaptação da peça africana de Jackie Key exibida durante a mesa que também contou com a participação da integrante do grupo Renata Miranda:

 

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