Racismo e teatro são temas em roda de pesquisadores na Escola de Teatro

O evento foi uma das atividades que encerraram o I Fórum Negro de Artes Cênicas da Escola de Teatro da UFBA

Por Greice Mara

Como uma das últimas atividades do I Fórum Negro de Artes Cênicas da Escola de Teatro da UFBA, a organização do evento promoveu uma roda de debates que contou com apresentação de objetos de pesquisas de pós-graduação de pesquisadores de algumas áreas do conhecimento. O debate, mediado por Mabel Freitas e Evani Tavares, ocorreu na Sala 5 da Escola de Teatro na UFBA na última sexta-feira (17) pela tarde.

A roda foi dividida em 3 blocos, nos quais cada pesquisador tinha direito a 10 minutos para exposição e, ao final de cada bloco, eram destinados 20 minutos para debate. Havia pesquisadores de diversas áreas, como Dança, Música, Teatro e História. Todos enfatizaram a importância do de pesquisadores negros em suas referências. Ao longo da atividade foram levantados os temas como o protagonismo da mulher negra no teatro, a invisibilidade da atriz negra na TV, questões relacionadas às danças de matriz africana, o ensino da música de matriz africana nas escolas e na universidade, entre outros.

O primeiro bloco, composto por Andréa Santos, Danielle Anatólio, Telma Souza e Valdimere de Souza, teve como enfoque principal o protagonismo da mulher negra na TV, no Teatro e na Dança. A pós-graduanda Andreia Santos, que em sua pesquisa analisa a relação do espetáculo Antônia (uma releitura de Antígona encenado em comunidades carentes Salvador) com a realidade de diversas mulheres das regiões periféricas da cidade.. “Essas mulheres periféricas que têm seus entes arrancados pelas mãos do Estado não estão em posição de facilidade, elas se organizam em prol de uma resistência”, conta. Em seu trabalho, Andréia cita a chacina do Cabula ocorrida em fevereiro de 2015 para reforçar sua tese.

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Foto: Greice Mara

Danielle Anatólio falou sobre estereotipização do corpo da mulher negra em seu estudo baseado no samba e no maxixe. Telma Souza, por sua vez, pontuou a invisibilidade da atriz negra na TV, apontando a falta de representatividade no ambiente televisivo e fazendo uma pesquisa que analisa o papel desempenhado por atrizes negras entre 1950 a 2000. Já Valdimere de Souza discutiu o papel da mulher como um não registro da sociedade. Ela ressaltou ainda,  a importância da discussão estética na dança que envolve a mulher negra.

No segundo  bloco, composto por Christiano Mattos (Cachalote Mattos), Roberta Roldão, Valnei Santos e Nádia da Silva, foi abordado o ensino da música de origem africana, dança e teatro. Valnei Santos tem sua tese baseada na educação musical sobre uma perspectiva descolonizada nas práticas pedagógicas, e acredita que “falar de música não é somente falar no sentido de que se vai aprender os conteúdos musicais, cantar bem ou conhecer os compositores. É também saber que a música que se ouve hoje tem uma influência muito forte da cultura negra.”

Christiano Mattos falou sobre a estética do oprimido de Augusto Boal. Ele fez pesquisas em alguns países da África como Guiné Bissau, Moçambique e Senegal onde promoveu o espetáculo teatro-fórum “Cor do Brasil” e exibiu o vídeo “O Poder do Black Power”. Roberta Roldão falou sobre a mediação da técnica de Germaine Acogny na preparação do ator bailarino na contemporaneidade, tendo como objeto de estudo as danças de matriz africana. Por fim, Nádio da Silva também discutiu a educação mencionando o racismo institucional dentro das entidades de ensino e ressaltando a UFBA um como marco do protagonismo da juventude negra no Brasil.

Já no 3º bloco, Fabrício de Brito e Mabel Freitas concluíram o debate abordando  o teatro negro como forma de inclusão. Fabrício deu ênfase ao teatro negro de rua e Mabel discutiu a importância do Bando de Teatro Olodum que também promove atividades teatrais para a comunidade.

Protesto – Durante o período aberto para debates, entre o segundo  e o terceiro bloco, o coletivo de teatro negro Dandara Gusmão aproveitou o espaço para relatar uma repressão sofrida durante uma manifestação feita pelo grupo no último dia 16. O ato foi uma tentativa de renomear, simbolicamente, o Teatro Martim Gonçalves para Mário Gusmão – primeiro aluno negro da Escola de Teatro da UFBA. Segundo os membros do coletivo, o vice diretor da Escola, Luís Cláudio Cajaíba, chamou três seguranças para retirá-los do local e  um funcionário técnico administrativo do teatro agrediu verbal e fisicamente o grupo.

O I Fórum Negro das Artes Cênicas ocorreu entre os dias 13 e 17 de Fevereiro, na Escola de Teatro da UFBA. O evento teve a proposta de pensar formas para inserção de referenciais da cultura negra no ensino, pesquisa e formação em artes cênicas.O Fórum foi uma realização da Escola de Teatro em conjunto com o Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFBA e recebeu o apoio da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil (PROAE), da Pró-Reitoria de Extensão (PROEXT) e da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Estado (SEPROMI).

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