Seminário discute o corpo como sujeito da história

Durante cinco dias, evento organizado por grupo de pesquisa da UFBA discutiu as implicações entre corpo, cultura e lazer.

*Por Vanice da Mata

O corpo como lugar central do ser humano nas suas relações com o ambiente, consigo, com os outros e a sociedade. Essa é a compreensão do grupo História da Cultura Corporal, Educação, Esporte, Lazer e Sociedade (HCEL), da UFBA, que promoveu, entre os dias 23 e 27 de julho,  seu terceiro seminário, na Faculdade de Educação (Faced).

“Nós somos seres corporais e é o corpo o sujeito da história. Para Descartes a mente pensa, e o corpo é uma maquinaria. Na nossa compreensão a mente fica no corpo, logo o corpo é o agente”, afirmou Maria Cecília de Paula Silva, presidente da comissão organizadora do seminário e pós-doutora em sociologia pela Universidade de Estrasburgo, na França, pesquisadora do Programa de Pós-Graduação e da Graduação da Faculdade de Educação da UFBA, além de líder do HCEL.

Para ela, todas as nossas possibilidades corporais devem ser compreendidas como parte da nossa cultura, e esta concepção “dá um giro em toda uma lógica cartesiana que ainda domina o imaginário social”. Para a pesquisadora, separar o pensar e o fazer leva o ser humano a se perceber enquanto não-sujeito, resultado oposto ao que ela compreende como fruto de uma educação assentada na perspectiva da formação humana integral. A formação defendida por ela estimula o homem a interagir e agir com (e na) sociedade como um ser capaz de transformar a vida em uma experiência melhor para si e para os outros.

 Além da universidade – Para realizar o III Seminário Corpo, Cultura, Lazer: história e memória do corpo, cultura e lazer para uma educação interdisciplinar e relações étnico-raciais, o HCEL contou com a participação de todos os alunos do terceiro ano do Colégio Estadual Odorico Tavares, localizada no Corredor da Vitória. “O objetivo da proposta foi o de aproximar nossos estudantes da educação básica da universidade”, explicou Elizabete Silva, professora de história da unidade escolar, que é parceira do HCEL. Dentro daquele colégio é desenvolvido “um projeto que trabalha capoeira e jogos africanos – mais especificamente a mancala, que é um jogo tabuleiro de lógica. E nesta aproximação com a universidade o foco é ‘quebrar muros’ mesmo, promovendo a interação entre a escola pública e a instituição de ensino superior”, destacou a professora.

Os estudantes do ensino médio Juliana Azevedo e Adson César Souza, ambos de 16 anos, fizeram parte do grupo que teve a oportunidade de participar do evento. “É a primeira vez que participo e me sinto honrado. É uma oportunidade para eu testar meus conhecimentos, inclusive como palestrante”, declarou Adson, que além de ser bolsista do programa de Iniciação Científica Júnior ligado ao projeto do HCEL no Colégio Estadual Odorico Tavares, foi também vencedor de um concurso dentro da escola que escolheu a arte gráfica do Seminário deste ano.

A mancala foi parte das brincadeiras educativas desconhecidas por grande parte do público e levadas ao seminário, segundo Adson. Ela é um jogo de tabuleiro que vem de diferentes nações do continente africano. “A gente fez um trabalho de história onde tivemos que fazer entrevistas como pessoas de países africanos de língua portuguesa. Uma das perguntas era sobre a mancala e descobrimos que em cada lugar ele tem um nome diferente, e inclusive em alguns lugares é um jogo apagado pelo tempo”, explicou o pesquisador júnior, para quem o seminário foi caminho de expressão de descobertas.

Além da cultura afro-brasileira, o “III Seminário Corpo, Cultura, Lazer: história e memória do corpo, cultura e lazer para uma educação interdisciplinar e relações étnico-raciais” garantiu espaço de reflexão a partir de grupos étnicos como ciganos e indígenas, além de abordar a dramaticidade na educação de culturas como a chinesa e a japonesa.