UFBA internacional: anualmente a universidade é destino para mais de 200 estudantes estrangeiros
Além do apoio institucional, estudantes recebem suporte dos próprios alunos da UFBA
Por Lucas Arraz e Greice Mara
A UFBA não é um sonho apenas para estudantes brasileiros, mas também para jovens estrangeiros que escolhem a Bahia e a federal soteropolitana como destino para o seu intercâmbio. Anualmente, a universidade apontada como a melhor do nordeste pela World University Rankings em 2016 recebe estudantes de países como Alemanha, Nigéria, Caribe e Timor Leste em cursos de graduação, mestrado e doutorado.
Atualmente existem duas categorias de intercambistas na UFBA: alunos especiais de universidade conveniadas e os estudantes provenientes de acordos de cooperação. Exemplo desses acordos foi o Programa Estudante Convênio de Graduação (PEC-G), criado pelo Governo Federal em 1964. O programa é destinado a alunos de países que possuem pouca ou nenhuma universidade, por meio dele a UFBA recebe graduandos de Cabo Verde, Guiné, Timor Leste, Paquistão, Caribe, Jamaica, entre outros. Estes estudantes cursam integralmente a graduação no Brasil.
Para quem já tem a graduação há a possibilidade de cursar a pós-graduação por meio do Programa de Alianças para a Educação e Capacitação (PAEC). Anualmente, 20 alunos de países da América Latina são selecionados pelo programa e recebem apoio financeiro dos seus países. Situação diferente dos 40 alunos vindos pelo PEC-G que, na maioria das vezes, devem arcar com seus próprios gastos. Antes de cursarem a graduação, os alunos internacionais da UFBA precisam passar pelo Celpe-Bras, teste que atesta a proficiência do intercambista em português. Quem não obtém a média exigida na prova, volta para o seu país de origem.
Os acordos de cooperação permitem que os estudantes decidam em qual universidade brasileira deseja estudar. Segundo o coordenador do Programa Especial de Monitoria de Português como Língua Estrangeira (PROEMPLE) Ricardo José Rosa Gualda, a preferência pela UFBA se dá por conta do curso de português para estrangeiros oferecido pela universidade. “Somos a universidade que mais recebe alunos do PEC-G porque oferecemos a maior quantidade de vagas nos cursos de português, ao todo são 4 turmas lineares e mais duas de reforço”, comenta o Gualda.
No curso, os estudantes não são separados por níveis. A aposta é em integração cultural como chave para o ensino da língua falada no Brasil. “Ensinar português é apenas um dos objetivos do curso. Os alunos devem aprender a como arranjar namorado e conseguir uma rede apoio. Não dá para ficar preocupado com o Celpe-Bras, ficar deprimido e ir embora por causa disso”, completa Ricardo Gualda. No último ano, os alunos do curso de português para estrangeiros da UFBA obtiveram uma taxa de aprovação de 71% no Celpe-Bras, média compatível com a nacional de 70% e que leva em conta os cursos de português para estrangeiros do Brasil inteiro.
Passagem pelo Brasil
Também chegam à UFBA alunos que vêm de universidades estrangeiras contemplados pelo convênio da Assessoria de Assuntos Internacionais (AAI). São estudantes que optaram por cursar um semestre de estudos no Brasil. Por meio do convênio da AAI chegam alunos de graduação e de pós graduação, que não precisam fazer o Celpe-Bras e ficam por aqui no período de um a dois semestres, podendo cursar até 6 disciplinas na universidade.
Geralmente, os alunos vindos por esta modalidade são europeus, mas o número têm caído com o decorrer dos anos. A principal razão: a greve ocorrida em 2015, que deixou o calendário acadêmico incompatível com os calendários internacionais de aulas. Entretanto, segundo Betânia Almeida, coordenadora da AAI, o quantitativo de convênios com universidades estrangeiras interessadas em receber e mandar alunos para UFBA vem aumentando. Os acordos de cooperação começaram com uma média de 20 a 30 universidades na década de 60 e hoje contam com um total de 329 instituições de ensino superior ao redor do mundo ligadas a UFBA.
Para vir para UFBA e para um estudante da instituição ir para uma das 329 universidades conveniadas, é preciso apresentar alguns documentos básicos, como matrícula e o certificado de seguro de saúde, além de bancar com os custos da viagem. Os estudantes de universidades conveniadas não tem direito a uma das vagas gratuitas para o curso de português para estrangeiros oferecidas pelo PROFICI, mas, caso queiram, podem fazer o curso pago do Núcleo Permanente de Extensão em Letras (NUPEL).
Integração Cultural
Para Betânia Almeida, apesar de todo o suporte burocrático e institucional aos alunos internacionais, a universidade ainda carece estruturalmente de um suporte voltado ao cotidiano dos estudante que chegam. Ela defende a integração cultural como melhor maneira de garantir a boa estadia e aproveitamento do intercambista.
A situação já foi diferente. Até 2016, os intercambistas contavam com um suporte para a integração dentro do novo país. Um estudante brasileiro da UFBA podia se inscrever a uma bolsa para prestar auxílio na integração do estrangeiro. Denominado “Amigo UFBA”, o programa hoje está parado por falta de verba. O programa surgiu em 2003 como uma segunda versão do “Anjo UFBA”, descontinuado após a extorsão cometida por um estudante da federal baiana contra um intercambista.
Apesar da falta de suporte da UFBA, iniciativas independentes buscam garantir a boa convivência com os visitantes. Além das aulas diferenciadas do PROEMPLE, Ricardo Gualda insiste para que os professores do curso prestem atenção a vida dos seus alunos, controle as faltas e insista para que todos avisem onde estarão nos finais de semana.
Outra iniciativa que tem dado bons frutos para intercambistas e alunos da UFBA é o grupo Poliglota. Se reunindo a cada 15 dias no gramado de Letras durante a semana e no morro do Cristo na Barra nos fins de semana, o grupo estimula a interação interlinguística entre estudantes nativos e intercambistas. As reuniões se dividem em duas partes de conversação diferentes: uma em inglês e outra em português. Porém, existem grupos no whatsapp ligados ao Poliglota, onde intercambistas de outros lugares do mundo ajudam brasileiros a aprenderem um novo idioma.
A coordenação do grupo Poliglota é dividida por 12 pessoas, que voluntariamente gerem as redes sociais, divulgam, e marcam as reuniões. Mais de 200 pessoas passaram pelo grupo durante seus dois anos de existência. Para Rodrigo Vergne, um dos coordenadores, além de integralizar intercambistas, o grupo tem papel fundamental na motivação do ensino da língua. A melhor memória de Vergne acerca do grupo são dos encontros que acontecem aos sábados na Barra, onde ele confessa ter feito grandes amizades. “Tenho vários lugares no mundo para ficar”, conta Vergne sorrindo.
Brasilidade
Perguntado sobre qual o melhor lado do Brasil, o futuro estudante de Relações Internacionais na UFBA, o ganês Brain Bryan, destaca a brasilidade e afetividade do brasileiro. “Vocês têm mais coração para ajudar o outro”, comenta. Bryan faz parte de uma das turmas de português do PROFICI e se prepara para o Celp-Bras de outubro. Ele veio de Gana para o Brasil através do PEC-G.
Ricardo Gualda também destaca o jeito atencioso do brasileiro, como crucial para o bom recebimento dos estrangeiros na UFBA. Ele conta casos, como o do estudante que já dedicou, quando pedido, algumas horas do seu dia universitário para corrigir as redações de alunos intercambistas que precisavam de ajuda.
Apesar da carência do apoio sistemático institucional da UFBA, o PROFICI também conta com o apoio de igrejas e centros religiosos para o recebimento de estudantes. Parte dos estudantes procuram pelas aglomerações religiosas na cidade onde estão e acabam por serem “adotados” por alguma família que faz parte da egrégora. Esse é o motivo pelo qual sírios vão em grande parte para o sul e sudeste do país, onde o número de mesquitas é mais alto. Em Salvador, igrejas evangélicas, como a Batista, apoiam estudantes do PEC-G, oferecendo casa e comida, em alguns casos.