XI Bienal do Livro agrega diversidade à programação cultural de Salvador
O maior evento cultural da Bahia dá espaço e voz às literaturas não acadêmicas, além de diferentes manifestações artísticas e discussões sobre o fazer literário.
*Por Gustavo Salgado
A Bienal do Livro Bahia 2013 apresentou uma programação cultural que vai de recitais de poesia a mesas de debates para se pensar literatura para além da academia. O evento, com ingressos a R$ 4 a inteira e R$ 2 a meia, aconteceu entre 08 de novembro e o último domingo, 17, no Centro de Convenções da Bahia.
Café e academia Uma das atrações que compõem a programação da Bienal é o Café Literário, conversa entre escritores que se converte num debate aberto ao público. A mesa de sábado, 09, tinha como temática a literatura fantástica brasileira e foi composta pelos autores André Vianco e Antônio Xernenesky, com mediação de Miguel Jost.
André Vianco apresentou a dificuldade em se publicar ficção com cenário nacional, tanto por falta de interesse das editoras quanto por rejeição de parte dos leitores. E poucos escritores se dedicam a esse tipo de produção. “Por que na América Latina todo mundo quer ser o novo Guimarães Rosa ou o novo Machado de Assis? Por que não querer escrever para um grande público?”, questionou Xernenesky. Para ele, não se encontram pessoas para se falar de literatura, contemporânea, no meio acadêmico. “Os acadêmicos, com seus jargões, não sabem ter contato com pessoas”, critica.
Jost defendeu, primeiramente, que não é “a” academia, há academias: “é difícil generalizar”, ressaltou. Continuou argumentando que o meio acadêmico tem voltado sua atenção para as expressões populares de linguagem, inclusive blocos de carnaval. “É uma academia de tradição a filtrar o que é “bom”, o “alto” na literatura. Tradição que vem mudando”, concluiu.
Também se discutiu a importância da presença de escritores em eventos literários. Vianco defendeu a interação entre autores e leitores, mas ressaltou que “o escritor precisa de um tempo sozinho, quieto, em frente ao computador”. E relatou uma situação em que um fã o abordou, com um frasco de sangue em mãos, e anunciou: “André, meu sangue para você!”. “Obrigado, já almocei”, foi o que respondeu.
Cordel e circo – a espetacularização do livro Compondo a Praça de Poesia e Cordel, espaço destinado à valorização do folclore brasileiro, alguns stands divulgam a poesia de cordel. Teo Guedes, vendedor de livros de cordel que se define como folheteiro e não cordelista (escritor), ressaltou a importância da inclusão de literatura popular no eixo dos grandes eventos.
O escritor Vladimir Queiroz, que se apresentou na Praça Poesia e Cordel e no Leituras Públicas, outro quadro da Bienal, afirmou que o evento contempla as literaturas não convencionais em seus vários espaços. Para ele, o movimento literário nacional está recebendo um grande fomento do governo através de concursos, feiras, bienais, tradução de livros de autores brasileiros para serem lançados no mercado, dentre outras formas de incentivo. “Há muita produção, facilidade em inscrever projetos, mas poucos são selecionados. Os investimentos não contemplam a todos”, conclui.
Queiroz analisa a espetacularização dos eventos literários, característica paradoxal que pode prejudicar a qualidade dos eventos. “Abre-se espaço para várias vozes, mas abre o questionamento da dosagem, até onde se deve ir ou não”, avaliou. Por fim recomendou a leitura do livro, de Guy Debord, “A Sociedade do Espetáculo”.