Amor, pandemia + Internet: em meio à crise de covid-19, redes sociais auxiliam casais
Conheça a história de quatro casais que começaram seus relacionamentos no último ano
Por Laisa Gama
Já dizia o cantor de samba Roberto Ribeiro: “Quem é que não gosta de carinho?”. Todo mundo, nem que seja um pouquinho, gosta de um chamego de vez em quando, de conhecer alguém, se interessar, marcar um encontro e ver no que vai dar. Porém, a pandemia deixou claro que agora as coisas não são tão simples assim. Mas nem por isso ficar de flerte com alguém deixou de acontecer. Se antes as redes sociais já faziam seu papel como facilitador no processo de conhecer alguém ou se aproximar intimamente de outras, com a crise sanitária, a possibilidade dessas interações aumentou.
Somente o Instagram que já era bem popular, com a pandemia, ganhou mais de 30% de crescimento no uso em relação ao Facebook, segundo um estudo realizado pela Socialbakers, empresa especializada em marketing de mídia social. Para Karla Freitas, pesquisadora no Grupo de pesquisa em Interação, tecnologias e sociedade (GITS/UFBA), manter contato durante a pandemia se tornou quase um sinônimo de videoconferência. “Houve um aumento muito significativo no uso de tecnologias. Esse uso tem colaborado para o enfrentamento dos desafios da pandemia, como dificuldades financeiras, ansiedades, saudade e tristeza”, explica ela.
Plataformas de interação mais direcionadas a relacionamentos também sentiram o impacto. De acordo com levantamento realizado pelo próprio Tinder, houve um crescimento de 19% em conversação no mês de fevereiro deste ano, em relação ao mesmo período de 2020. Além disso, o tempo relativo de conversa aumentou e os “Matches”, recurso na formação de pares com interesse mútuo na plataforma, aumentaram cerca de 42%.
Para Karla, hoje não é mais viável separar os ambientes digitais e físicos. “Os aplicativos de encontros e os perfis em mídias sociais abrem possibilidades de contato e também de seleção prévios entre os parceiros. Instant messengers, como WhatsApp, auxiliam na articulação dos encontros, ao mesmo tempo que os expandem e estendem em suas conversas”, detalha.
Então, pensando nessas questões, a Agenda foi atrás de algumas pessoas que, apesar do momento, conseguiram encontrar alguém para dividir um carinho, o qual foi sendo desenvolvido a partir desses meios digitais.
MELINA + WESLEY
Para a publicitária Melina Ferreira, 24, ter os primeiros contatos com alguém através do Tinder era muito chato, mas esse cenário logo mudou. Afinal, quando Wesley Cavalheiro, 24, apareceu em sua vida, em junho de 2020, percebeu que não era bem assim. “As pessoas que eu dava match muitas vezes não seguiam com as conversas, ou sumiam. Aí, fui ficando desacreditada de ter alguma interação”. Por isso, quando deu match com seu hoje namorado, a conversa por ali durou apenas um dia. Melina já estava um pouco cansada das situações que nunca davam em nada e logo desinstalou o aplicativo.
O Tinder tem um recurso que possibilita a vinculação da conta com outra rede social e a de Melina no aplicativo era dessa forma com o Instagram. Assim, o estudante de História não deixou a conversa encerrar e entrou em contato com ela por lá. Desde então, não pararam mais de conversar. Por conta da pandemia, resolveram esperar mais um tempo para se conheceram pessoalmente. Assim, foram cerca de dois meses mantendo contato apenas por mensagem.
Depois desse tempo, combinaram que o primeiro encontro deles seria na casa de Wesley ao invés de algum lugar público. Melina, nem um pouco boba, deixou avisado onde estaria, afinal nunca se sabe o que pode acontecer quando se trata de pessoas pela internet. “Mas deu tudo certo. Assistimos filmes, compramos coisas gostosas para comer e conversamos bastante para nos conhecermos. Ficamos até dezembro, e no dia 18 desse mesmo mês, ele me pediu em namoro.” Hoje já estão completando quase seis meses de relacionamento.
VICTOR + MATHEUS
Em maio do ano passado, Victor estava bem tranquilo olhando o feed do Instagram quando recebeu uma notificação de um novo seguidor. E claro, aquela espiadinha aconteceu e resolveu olhar as fotos de Matheus, o achando bem bonito. “Aí eu falei: papai ama, papai cuida”. Depois de algum tempo em que se seguiam na rede social, Victor viu que sua paquera tinha postado um stories fazendo aula de tiro em stand e resolveu responder a postagem por ter encontrado um interesse em comum. Matheus o respondeu e nesse mesmo dia passaram mais de 6 horas em ligação.
Somente depois que Victor descobriu que eles tinham um amigo em comum. No Carnaval de 2020, Matheus queria fazer com que este amigo deles ficasse com um outro conhecido seu naquela época. E por conta dessa situação, Matheus através do Instagram, viu pela primeira vez seu atual namorado. A partir disso, diversas vezes ele olhava a rede social de Victor, mas sem coragem de entrar em contato.
Nesse período em que começaram a se falar, não estavam na mesma cidade. Enquanto Victor passava os primeiros momentos da pandemia na casa de seus pais, em Alagoinhas, Matheus estava em Salvador. Somente um mês depois, quando ele voltou do interior, resolveram arriscar em um encontro. Como ambos estavam ficando em casa por conta do corona, decidiram que para se verem, teria de ser na casa de algum deles. Assim, em junho, Matheus foi buscar Victor onde ele morava para irem para sua casa e foi um conjunto de sentimentos: “Tínhamos medo de tudo que a gente estava sentindo não ser o mesmo pessoalmente. Mas o beijo mostrou que a gente estava no caminho certo”, contou Victor sobre o primeiro encontro. Pelo fato de ambos trabalharem e estudarem, não tem como ficar em completo isolamento de outras pessoas. Assim, pela frequência que se veem, buscam fazer testes de covid para ter uma maior segurança.
JÚLIA + ÍTALO
Já Júlia Maia, 19, e Ítalo Pires, 19, ao contrário dos outros casais, já se conheciam pessoalmente através da escola. Somente próximo do final de 2019, após terminarem o ensino médio, começaram a ter um maior envolvimento. Mas, chegou março, os primeiros casos de covid-19 e a necessidade de isolamento social. Por conta disso, não podiam se ver. Porém, isso não foi um impedimento para que o relacionamento deles se tornasse mais sério, pois dias depois da quarentena ter começado o pedido de namoro de Ítalo veio em uma de suas ligações com Júlia. “A gente se falava com bastante frequência, hoje em dia ligamos um pro outro quase todo dia para conversar”, contou a estudante de direito.
O início de namoro foi muito complicado para eles justamente pelo medo de contaminação. “Lá em casa estava todo mundo assustado e para ele também, porque morava com os avós, então tinha um risco ainda maior”. E assim, desde o período do pedido de namoro, eles só foram se ver quase dois meses depois, tomando todos os cuidados devido à situação que enfrentavam. Por questões de segurança, o estudante de B.I. em Humanidades deixou a casa dos avós e voltou a morar com seu pai, mais longe de Júlia.
Então, se antes já era complicado deles se verem, a situação teve um agravante, pois enquanto Júlia morava no Itaigara, ele ficava em Stella Maris. “A distância ficou maior ainda e como temos evitado pegar transporte público, isso dificulta a gente nesse sentido”. Porém, mesmo com todas as dificuldades, eles hoje já completam mais de um ano juntos, compartilhando com todos os cuidados, seus momentos na companhia um do outro.
VITÓRIA + REGINA
Foi no aniversário de 18 anos de Vitória Sampaio, em novembro passado, quando uma nova pessoa surgiu em sua vida. Regina Rocha,17, através de uma amiga em comum, começou a conversar com Vitória pelo WhatsApp. “Quando Carol me enviou o número dela, fiquei tendo um debate com ela. Eu tinha ficado em dúvida se tinha sido Vitória que queria que passasse o número ou tinha sido Carol mesmo”, contou Regina sobre seus primeiros contatos.
Vitória que é estudante de jornalismo na UFBA, com a pandemia voltou para cidade que morou a vida toda: Macaúbas. Com cerca de 50 mil habitantes, não havia tantos casos de coronavírus. Isso deu a ela uma maior segurança de poder conhecer Regina, além de que ambas evitavam sair de casa. Mas apesar disso, a maior parte do tempo Vitória não ficava na cidade e sim no povoado próximo chamado Posto da Gameleira.
Somente quando surgia uma necessidade que ela ia até a cidade. Em uma dessas vezes que seu encontro com Regina pôde acontecer, com direito até a troca de rosas. “Nós combinamos de levar flor uma para a outra. Eu achei que ela [Vitória] estava falando brincando, mas eu levei mesmo assim”, contou Regina sobre o primeiro encontro. A partir disso, começaram a falar com muita frequência por ligação ou chamada de vídeo.
Elas estão juntas há seis meses e o período mais longo que puderam se ver foi quando Vitória começou a auto-escola fazendo-a passar mais tempo em Macaúbas. “Eu vinha para a casa da minha tia e nos víamos geralmente quando eu saía para a aula. Sempre em lugares isolados ou então eu ia para a casa de Regina”, explicou Vitória sobre os momentos juntas. Atualmente, se vêem na maior parte do tempo a cada 15 dias, sempre com cuidado e mantendo um isolamento social de pessoas fora de seus convívios.