Brechós são alternativa sustentável de consumo de moda
Estudantes da UFBA investem em brechós para montar guarda-roupa e completar renda
Por Mariana Gomes
Demonstrando um novo sentido de consumo, os brechós têm sido cada vez mais procurados e criados e usam atualmente as redes sociais como grande plataforma de divulgação. Conversamos com donas, consumidores e profissionais da moda para entender este movimento.
Engana-se quem pensa que a prática de usar peças de segunda mão é novidade dessa geração. Para a designer I’sis Almeida o costume de ir ao guarda roupa das familiares em busca de novas composições, a faz naturalmente ir em busca de brechós online atualmente.
“Eu sou muito ligada a entender o meu estilo, que é bastante ligado aos anos 1980 e 1990. Por mais que eu encontre atualmente nas lojas, como roupas vintage, eu tenho esse hábito de usar as roupas da minha avó, da minha mãe, das minhas tias. Como esse estoque se esgotou, comecei a buscar brechós. Hoje é uma questão de consciência de consumo”, relata.
As amigas Andreza Valverde e Sara Cristina criaram o Brechó das Pretas. “O brechó surgiu da nossa necessidade de ter uma renda extra, tínhamos roupas que não cabiam mais na gente e decidimos passar pra frente já que eram peças boas e algumas até novas. Com o tempo, ele foi crescendo e fomos mudando de perspectiva. Mudamos os princípios, passamos a compreender que ter um brechó está além do desapego de nossas roupas. Hoje enxergamos os brechós como uma potência de mudança com relação ao consumo e ao impacto ambiental”, relatam as donas.
Nas redes sociais, elas divulgam as peças disponíveis e investem em fotos elaboradas para chamar a atenção do público. “O primeiro passo é o garimpo. Essa fase é super cansativa e também muito prazerosa. Passamos o dia andando pela cidade, pegando em roupas empoeiradas, com mau cheiro e escolhendo quais entrarão para o brechó”.
Para valorizar as peças, as estudantes investem na customização. “Nós gostamos de reformar as roupas, o que hoje é chamado de upcycling, ressignificando-as. Após isso vem o momento das fotos, a administração de nossa página de da plataforma de venda, que é o Instagram. Divulgamos nosso trabalhos, com as fotos e criação de conteúdo, dessa formas as clientes chegam até nós e podem fazer a compra. Entregamos em pontos marcados de entrega e o pagamento pode ser na hora ou antecipado ”.
Impacto sustentável
A consultora de estilo Paula Leandro explica que os brechós são uma boa alternativa na hora de comprar roupas. “É uma excelente oportunidade de treinar o nosso olhar para selecionarmos aquilo que realmente gostamos. Além disso, os valores são bem mais em conta, ou seja , economizamos, e é uma compra sustentável – colocando a roupa para ser usada em todo seu ciclo”, nos explica em entrevista.
Os brechós são espaços importantes de reaproveitamento de roupas, como nos conta Carlos Barros, um dos envolvidos na criação do aplicativo Moda Livre. “Além de funcionais, são amplamente sustentáveis, justamente por possibilitarem a reutilização de peças que poderiam ser descartadas ou subutilizadas”, explica.
O aplicativo Moda Livre mapeia as grifes de roupa e sua relação com o trabalho escravo no Brasil. Da confecção até chegar à hashtag #LookDoDia existe um longo caminho que precifica a roupa que usamos, da confecção à distribuição. Então, se em algum momento você optar por ir em grandes lojas de departamento, avalie como ela trata os trabalhadores.
É importante articular as práticas, como sugere a própria lista de objetivos sustentáveis da Organização das Nações Unidas. “A indústria de produtos de segunda mão tá faturando muito lá fora. Salvador está com armários compartilhados, encontros de brechó e muita gente vendendo roupa. É um movimento que não exclui a roupa nova, mas faz com a gente vá primeiro ver com amigas (os) e depois vá no brechó e se não achar vai até o shopping ou lojas de rua/bairro”, afirma Paula Leandro.
A decisão de comprar em brechós pode ser impulsionada com um consumo mais lento, como orienta o movimento slow fashion (moda lenta). Diferente das grandes lojas de departamento, que lucram com a venda de peças diferentes a cada estação e a terceirização dos processos produtivos, o slow fashion nos estimula a pensar em toda cadeia produtiva que faz a roupa chegar ao nosso guarda roupa.
Termo cunhado em 2004 pela jornalista de moda Angela Murrills, questionam algumas ideias como a noção de novidade e da necessidade de coleções que mudam quatro vezes por ano. Para isso, leva em conta fatores como recursos locais, transparência dos sistemas de produção, aproximação entre produtor e consumidor.