A cultura em tempos de pandemia: como o entretenimento é aliado para a saúde mental
Pesquisa aponta que ansiedade aumenta no isolamento; consumo de entretenimento também cresce
Luana Lisboa*
Aumento de fobias sociais e crescimento da ansiedade são comuns entre pessoas que cumprem as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) quanto ao isolamento social. Mundo afora, os tempos de pandemia têm nos feito questionar o impacto do isolamento na saúde mental do indivíduo e, também, no meio cultural. Mas, apesar de salas de cinema fechadas, shows adiados e museus vazios, a televisão, plataformas de streaming e as lives tomam o protagonismo na busca por rotinas e mentes equilibradas.
Para a psicóloga Ticiana Carnaúba, a indústria do entretenimento representa um espaço de informação, de troca e de fuga nesse momento. “Plataformas digitais e canais de televisão podem auxiliar nesse aspecto se propuserem ideias desviantes do foco da pandemia. O mesmo meio que propaga pânico, pode propagar esperança, basta calibrar o conteúdo fornecido”. Ticiana diz ainda que a indústria do entretenimento tem um poder estruturante na formação do ser social. Daí a relevância do consumo de cultura para o indivíduo em isolamento.
Uma pesquisa da empresa de tecnologia Behup aponta que 60,3% dos brasileiros se sentem mais ansiosos em isolamento. O estudo, que analisou 1561 participantes, também mostrou que 53,8% deles disseram estar mais estressados. Outra pesquisa da Nielsen Media Research demonstra que o consumo de streaming pode aumentar em mais de 60% durante esse período. Isso pode ser explicado, de acordo com o psicólogo Ricardo Moura.
“Quando a saúde mental está fragilizada e carente de atenção e cuidado, os meios de entretenimento podem ajudar com a horizontalização do acesso ao seu conteúdo”.
Ele explica que, para a manutenção da saúde mental, é fundamental a criação de uma rotina que envolva hora para dormir, acordar, tomar banho, se alimentar adequadamente, trabalhar. E o horário do entretenimento deve estar incluso nessa rotina. “Todos esses comportamentos auxiliam na sensação de continuidade. Seres humanos são seres de hábitos. Quantos mais realizarmos atividades comuns, mais bem estruturados estaremos, para saúde mental, física e social”.
Artistas independentes menos conhecidos e produtores culturais também têm se adaptado às medidas de segurança e ofertado entretenimento de maneira gratuita através do meio virtual, com as famosas lives, mas também por meio físico. Mestres, professores de música, grupos culturais aproveitam as suas varandas e sacadas de casa para oferecer música ao vivo à vizinhança. “Isso é a maior expressão dos últimos tempos de acesso gratuito e igualitário à diferentes públicos e grupos sociais, é o maior impacto desse período”, afirma a produtora cultural Alana Alves.
E o impacto positivo disso não vem só para o público. “A população passa a conhecer melhor quem são os agentes culturais e artistas da sua região, ampliando o consumo dos produtos oferecidos por esses, aumentando a divulgação, consequentemente, de cada trabalhador da cultura e das artes que passou a ser conhecido”. É assim que ela explica como, em tempos de isolamento social, uma rede maior de trabalhadores permanece ativa e uma rede maior de público consegue ser constituída.
*voluntária da Agenda Arte e Cultura