Pandemia em Feira de Santana: como a covid-19 afetou as vidas dos estudantes?
Feira de Santana foi a primeira cidade a ter casos de coronavírus na Bahia. A Agenda conversou com jovens feirenses para entender como estão suas rotinas
Por Laiz Menezes*
Após quatro meses de pandemia, Feira de Santana já passou por fechamento de comércio e até toque de recolher. Os estudantes feirenses são muito afetados pela crise, já que tiveram suas rotinas completamente alteradas, tendo que se adaptar ao estudo de casa. Muitos desses jovens sentem falta de encontrar com seus amigos nas aulas, dos professores e do ambiente físico que tinham antes. Alguns deles se viram diante de um desequilíbrio financeiro. Para entender melhor essa situação, a Agenda conversou com pessoas que moram ou que estão na cidade desde março.
Logo quando a pandemia chegou em Feira de Santana, o estudante de pré-vestibular Gabriel Victor, 21, explica que a pandemia o afeta em relação ao atraso nos estudos e o impacto que ela causou sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Desde o início, quando o coronavírus chegou ao Brasil, um sentimento de incerteza já me assustava bastante. Não sabia se a prova ainda iria ocorrer ou como seria. No meu caso, retardou bastante o meu currículo, pois tive que me adaptar às incertezas, mas, após ter tido esse período, consegui voltar aos trilhos e começar a estudar novamente. Por estar acostumado a ter aulas em casa há muito tempo, consegui me acostumar bem rápido às mudanças e aos estudos online”, comenta.
Gabriel conta que está com saudades de encontrar com seus amigos. Por ser estudante e passar muito tempo em casa se preparando para o Enem, ele sente falta de poder sair e se encontrar com pessoas. Sobre sua rotina, ele explica que passa a maior parte do dia estudando. “No início, meu dia passava sem eu perceber, mas agora eu sinto mais o tempo e a cada dia fico mais desmotivado a fazer as coisas. Tento mudar a rotina um pouco, mas é complicado. Tem dias que eu passo as 24 horas sem fazer nada, apenas deitado na cama, já em outros, eu sou extremamente produtivo, seja mentalmente ou fisicamente”.
Já com relação à cidade, o comércio estava aberto, mas após o número de casos aumentarem e os hospitais feirenses ficarem sem leitos, o prefeito fechou novamente. Porém, na última semana foi autorizada a abertura do centro comercial, com algumas regras e dias específicos para cada área.
Apesar disso, Gabriel ainda não tem boas perspectivas para a cidade, já que a cada dia surgem novos casos e mais pessoas que desrespeitam as medidas de segurança. “Muitos acreditam que ainda irá durar até o ano que vem, outros esperam otimistas por uma vacina”.
O estudante de história da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) Pedro Pamponet, 21, acredita que o maior impacto da pandemia na sua vida enquanto estudante se relaciona com os seus sonhos. “Acho que todo estudante cria muita expectativa, projeta planos e, infelizmente, essa crise afetou bastante meu psicológico, agravado pelos boletos. Mesmo tendo um apoio financeiro da Universidade, eu estou muito mais preocupado se vou ou não conseguir custear as minhas dívidas mensais para me manter próximo da faculdade”, explica. Muitos alunos de outros locais precisaram entregar suas casas aos proprietários, já que estavam vazias durante a quarentena.
O estudante conta ainda que teve a impressão de que no início da pandemia os feirenses estavam bem mais assustados do que atualmente e, como consequência, isso fez com que eles não seguissem mais a risca o isolamento social. “Hoje, os casos aqui na cidade estão alarmantes, tanto que foi necessário o toque de recolher para controlar a velocidade da situação. Sem falar que tal medida foi necessária devido aos leitos, que estavam mais de 90% ocupados”. Sobre sua rotina na pandemia, ele explica que ela é basicamente voltada à serviços domésticos, já que as aulas estão suspensas. Também conta que o que mais sente falta é do cinema, porque ele assiste muitos filmes e adorava fazer isso com seus amigos.
Já a estudante de Ciências Contábeis Amanda Rodrigues, 20, conta que a pandemia afetou muito sua vida universitária e ela precisou trancar o seu curso pela sua dificuldade em aprender os assuntos no EAD. “Eu trabalho o dia todo e esqueço das atividades, sem contar que, devido a quarentena e essa crise no Brasil, eu não tenho ânimo para as aulas. Presencial também é difícil, mas ter um professor para esclarecer minhas dúvidas me auxilia bastante”, explica.
Quando o comércio fechou pela primeira vez por alguns dias em Feira de Santana, as pessoas, segundo Amanda, por medo do que podia acontecer e sem entender muito bem a situação, foram para os mercados e bancos, o que gerou muita aglomeração. “Os feirenses sentiam medo no início por ver que as coisas estavam acontecendo muito rápido, os colégios fechando, o shopping, entre outras, o que causou um certo pânico. Atualmente, eu acredito que os moradores da cidade não levam muito a sério essa crise. Só começam a acreditar e seguir as medidas restritivas quando alguém próximo é contagiado pelo vírus”.
*voluntária da Agenda Arte e Cultura
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