Com calma se vai ao longe: estudante faz vaquinha para conseguir comprar cadeira mais moderna
Adauto Menezes é estudante de jornalismo da UFBA e busca maior autonomia em sua locomoção
Por Mariana Gomes*
Geralmente vestindo tons neutros e conhecido por estar sempre atrás dos livros, Adauto Menezes não passa despercebido pelos ambientes. Seja por ser cadeirante. De riso fácil, porém tímido, o estudante de 21 anos se apresenta como uma pessoa que leva a vida de forma leve.
Nascido na capital baiana, Adauto mora em Fazenda Coutos III, bairro do Subúrbio Ferroviário da cidade. Todos os dias pega dois ônibus e atravessa a cidade até o centro para estudar jornalismo na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Acompanhante de sua jornada, sua mãe, dona Bárbara, é conhecida nos espaços que ele circula. “Eu conto com a ajuda do NAPE [Núcleo de Apoio à Inclusão do Aluno com Necessidades Educacionais Especiais/ UFBA] e da minha família, principalmente de minha mãe”. Sempre juntos, os dois são a referência de afeto em suas vidas.
Comunicativo, ele fala dos assuntos que dizem respeito à sua existência de forma desenvolta. As pessoas do seu convívio destacam sempre essa característica. “Por causa disso, eu escolhi o curso de jornalismo. Quando eu era mais novo sonhava com o Direito. Hoje sei do valor que o jornalismo tem para a nossa sociedade”.
Em busca de maior autonomia, fundamental na vida de qualquer pessoa de sua idade, Adauto lançou neste mês uma campanha de financiamento online para comprar uma cadeira motorizada que facilitará sua mobilidade na universidade e em outros espaços da cidade. A meta é alcançar o valor de R$10.000 até o dia 20 de outubro. No momento, já foi arrecadado cerca de 30% do esperado. Se o ditado popular diz que “devagar se vai ao longe”, transitar com independência viabiliza a experiência com qualidade.
Acompanhe aqui a campanha de financiamento online
Há cerca de um ano estudando na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (FACOM/UFBA), Adauto se encaminha agora para uma de suas primeiras experiências de trabalho na área. Trabalhará na equipe de redação da Rede Íris, uma agenda digital especializada em acessibilidade cultural na cidade de Salvador.
“Espero dar vez e voz a pessoas que assim como eu talvez não tenham tido essa oportunidade”. Com entusiasmo, o jornalista em formação espera somar de forma potente ao coro das pessoas que lutam contra o preconceito às pessoas com deficiência. “Costumo usar a metáfora do boi no curral. Se o boi soubesse da força que tem, não ficava preso. Acredito que as pessoas precisam saber da força que tem para sair dos paradigmas limitantes da nossa sociedade”, conclui o estudante.
Para além de suas relações no ambiente universitário, Adauto já percorreu seu bairro em diversas atividades como teatro, xadrez, cordel e karatê. “Na minha vida escolar, já fiz bastante coisa na região. Participei de muitos projetos de cultura e arte”. Ao lado da mãe, o rapaz participa atualmente de ações na igreja que faz parte. Faz questão de dizer como é um lugar importante para sua formação, considerando-se “bastante religioso”.
Caseiro, o jovem passa seu tempo livre exercendo a escrita, tocando teclado ou acompanhando suas séries preferidas. “Eu escrevo para mim mesmo e como todo jovem, acompanho algumas séries. De vez em quando, o arranho no teclado”. Demonstrando ambições humildes, mas com uma vontade que transborda, Adauto se coloca aberto a novas possibilidades. A faculdade aparece como palco em sua vida para que possa ganhar e construir outros olhares do seu mundo.
*Essa reportagem foi realizada em parceria com a Rede Iris
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