ALB celebra 200 anos da Imprensa na Bahia em sessão especial

Por Ítalo Cerqueira*

 

Nesta última quinta-feira (1), a sede da Academia de Letras da Bahia (ALB), recebeu uma sessão especial em homenagem aos 200 anos da imprensa baiana. O evento celebrou o bicentenário do primeiro jornal impresso do Estado, o Idade d’Ouro do Brazil, mais conhecido como Gazeta da Bahia. O jornal, fundado pelo empresário Manoel Antônio da Silva Serva, era publicado as terças e sextas-feiras e se caracterizava por sua linha conservadora em defesa do absolutismo monárquico português.

A mesa foi composta pelo Prof.º Edivaldo M. Boaventura, Dr.ª Consuelo Novais Sampaio, Prof.º Carlos Ribeiro, Profº. Waldir Freitas Oliveira e Prof.º Luís Henrique Dias Tavares Para compor a mesa de discussão foram convidados a Dr.ª em história, Consuelo Novais Sampaio, o professor e escritor, Waldir Freitas Oliveira, o historiador, escritor e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Luís Henrique Dias Tavares, o professor da Ufba, Edivaldo Boaventura e o articulista do Jornal Tribuna da Bahia, Joaci Góes. A sessão foi presidida pelo professor e jornalista, Carlos Ribeiro. Dr.ª Consuelo Novais Sampaio traçou a história de um importante jornal republicano da Bahia, o Diário de Notícias, fundado em 13 de março de 1875, por Manuel Lopes Cardoso. A professora citou algumas particularidades do jornal, “tinha como principal característica o seu não partidarismo, o que agregava bastante prestígio por parte de seus leitores, entretanto, este caráter de neutralidade na cena política não se prolongou por muito tempo devido aos seus sucessivos proprietários. O posicionamento e visão se adaptavam à direção vigente”, lembra. A historiadora destaca que muitos acontecimentos nacionais e internacionais estamparam as páginas do Diário de Notícias, como a abolição da escravatura, a revolução de 30, o golpe de Vargas e a I e II Guerras Mundiais. “Sua história é uma verdadeira história do país, especialmente da Bahia”, declarou.

Em seguida o professor da Ufba, Edivaldo Boaventura, trouxe a trajetória do jornal A Tarde. Lembrando que em 2012 o jornal completará 100 anos de existência e desde sua criação em 1912, pelo Dr. Simões Filho, caracteriza-se por sua postura política e partidária. Além disto, traçou toda a evolução do jornal, desde a sede na Praça Castro Alves até a atual no bairro do Caminho das Árvores, destacando a consolidação como jornal referência na Bahia. Boaventura destacou a informatização e ampliação da base comunicacional de A Tarde, como a Rádio A Tarde, portal A Tarde, provedor Avance Telecom, Revista Muito, Mob e o Jornal Massa.

Boaventura destacou que A Tarde tem “o mais precioso arquivo da Bahia”, que está sendo digitalizado. Ele disse também que os exemplares diários estão sendo gradativamente reduzidos, devido a esta nova reconfiguração do mercado impresso, hoje a grande ênfase do jornal é a parte de informática, do que a parte impressa, apesar de ainda o jornal impresso cobrir os custos do jornal digital”, ressaltou.

O terceiro momento foi marcado pela presença do professor e escritor, Waldir Freitas Oliveira. Sua abordagem foi sobre a presença de duas revistas de tendências modernistas em terras baianas. A primeira apresentada foi a revista Momento, com apenas 9 edições, ela tinha aspectos ideológicos socialistas, porém nunca se declarou socialista de fato, dentre seus escritores estavam Jorge Amado, Edson Carneiro e Walter da Silveira. Já a segunda foi a revista Samba, com apenas 5 números e era assinada, por exemplo, por Bráulio de Abreu e Naomar Marques. O momento modernista baiano está relacionado a presença da Academia dos Rebeldes, formado por um grupo de jovens escritores que foi responsável pela renovação das letras no Estado, tendo como um dos integrantes o já citado Jorge Amado. Oliveira aproveita o momento e declara que “nunca houve na Bahia ninguém interessado em fazer uma tese de mestrado ou doutorado sobre a Academia dos Rebeldes”, para o professor “o modernismo na Bahia foi uma brincadeira de intelectuais”, lembra.

Em seguida, o professor da Ufba, Luís Henrique Dias Tavares, fez a leitura de duas crônicas suas, uma intitulada Moça sozinha na sala, a qual obteve bastante repercussão a ponto de o próprio escritor Jorge Amado a levar para ser publicada, e a seguinte leva o nome de Almoço posto na mesa, uma metáfora que se posiciona contra o golpe militar de 64 ocorrido no Brasil. Tavares é autor de 5 livros de crônicas. Por fim, o articulista do Jornal Tribuna da Bahia, Joaci Góes, faz uma previsão baseada no presente, sobre o futuro do jornalismo. Ele afirma que “o jornalismo terá um futuro brilhante tanto na Bahia, quanto no Brasil, isto se deve porque o papel deixará de existir e tudo que será produzido permeará pela internet e pelos mais diversos dispositivos e isto vai exigir que o jornalismo pare de reproduzir o fato na matéria, em dar somente a notícia, mas também fazer uma reflexão sobre ela”, profetiza. Para Góes, mesmo que tenha se perdido o aprofundamento nos textos, as pessoas estão lendo pela internet desde as barbaridades até as coisas mais esclarecedoras, “nunca se leu tanto como hoje”.

LANAME~2Carlos Ribeiro, organizador do evento, explica que pensa em dar continuidade aos eventos voltados para o universo jornalístico. Para a ALB o evento tem um significado especial já que boa parte de seus integrantes atuaram ou atua de forma bastante preponderante na imprensa. “A imprensa sempre foi e continua sendo um espaço de atuação de intelectuais que refletem sobre os problemas do nosso tempo e interferem na esfera pública, através de artigos, ensaios e entrevistas”, ressaltou Ribeiro. Além disso, ele destacou a relevância do evento para o momento atual da imprensa baiana, “trata-se de um momento especial, de crise e redimensionamento do que chamamos hoje, de forma bastante genérica, de mídia, tanto em nível local, como nacional e internacional. Busca-se encontrar e consolidar uma identidade em meio a uma revolução tecnológica sem precedentes”, acrescenta.

 

*Estudante de Produção Cultural da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom

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