Conheça a estudante da UFBA que ensina programação para iniciantes no Youtube
Lila Montenegro trocou o curso de Matemática pelo de Ciências da Computação
Por Luana Lisboa
“Oi, gente. Meu nome é Eliene Amaral Montenegro. Hoje eu vou falar um pouco da minha história e do que eu pretendo com esse canal”. São as palavras que inauguram a chegada no Youtube da aluna de Ciência da Computação da UFBA, de 24 anos. A forma simples com que se apresenta também dá o tom do seu canal, no qual ela ensina programação para iniciantes.
“Eu costumo ver muitas vídeo-aulas no Youtube e uma coisa que eu percebo é que a maioria é em inglês. Eu quero trazer o conteúdo de computação em português e aumentar a acessibilidade a ele”. Com esse pensamento, a estudante iniciou a produção de vídeos, em junho deste ano.
“Tenho recebido feedbacks muito legais, normalmente as pessoas agradecem pela atitude de ter disponibilizado esses conhecimentos de forma gratuita, que é o intuito do canal”.
Cursando o 6° semestre de Computação, ela explica a paixão pela área e conta porque a preferiu em relação à Matemática, que cursou durante 2 anos: “A computação permite criar e desenvolver tecnologias que podem ser dissipadas e ajudar a vida de muitas pessoas. E ainda envolvia a parte de jogos, que sou apaixonada desde criança”.
Aliás, Lila, como gosta de ser chamada, tem uma longa lista de paixões. Matemática, Computação, esportes, – tênis e futebol são os preferidos – jogos e escrita. Até livro de ficção já publicou, o “Depois do Fim do Mundo”. Mas calma aí, vamos por partes.
Da Matemática à Computação
A paixão pela Matemática surgiu no 1° ano. Foi quando uma intercambista da Turquia foi estudar na sua escola e a mostrou uma forma de ver a matéria para além das fórmulas. “Eu queria muito aprender a fazer Matemática daquela forma não engessada, ter aquele domínio das propriedades básicas dos números, que fazia ela ‘brincar’ com eles”. Daí, Lila fez uma prova para cursar o 2° ano no Kansas, com um dos objetivos de ver como a Matemática era estudada nos Estados Unidos. Passou. Durante um ano, pegou matérias de Geometria, Cálculo, Pré-Cálculo e ainda foi ajudante do professor (“teacher’s aid”).
Decidiu cursar Matemática quando estava 3° ano do Ensino Médio, já no Brasil. Só deixou o curso quando percebeu que seu sonho não era lecionar, mas aplicar a ciência na prática. Além disso, ela já tinha afinidade com a lógica e gostava de tudo que envolvesse criação – de música a jogos.
“Sempre gostei muito de videogames também, desde criança, viciada no Nintendo, jogava Mario, Rock n’roll race, Batman. Depois peguei um Plastation 1 e assim por diante”. Hoje, gosta de jogar no computador. “Valorant” – jogo eletrônico multijogador de tiro em primeira pessoa – é o seu queridinho do momento.
“Depois do Fim do Mundo”
Na verdade, foram os jogos de RPG – no qual os jogadores assumem papéis de personagens e criam narrativas em conjunto -, que a impulsionaram na escrita de “Depois do Fim do Mundo”. Lançado em 2017 e disponível no Wattpad, o livro se passa em um cenário pós-apocalíptico. Lila o escreveu em dois anos, enquanto estava na faculdade de Matemática. “Ele conta a história de Lexi e outros seis jovens que tiveram que passar a vida escondidos em uma montanha porque seus pais violaram a ‘regra do filho único’ de seu povo. Com o risco de serem descobertos, eles precisam fugir”. Coincidência ou não, o apocalipse do livro acontece em 2020.
Além disso tudo, ela ainda pode colocar no currículo que já jogou em time de futebol profissional, o São Francisco do Conde Esporte Clube. Ficou durante um mês e percebeu que sua “praia” mesmo era jogar por diversão. Antes disso, só jogava bola com o pessoal do seu condomínio, por influência de um primo. E no colégio, montou o time de futsal feminino com as amigas, onde jogou até o 3º ano. Nos Estados Unidos, praticou beisebol e basquete, e também virou uma fã dos esportes.
Perguntada se ela já teve que lidar com o fato de que suas afinidades se encaixam majoritariamente no “universo masculino”, ela não titubeou: “Com certeza!”. No futebol, não bastava jogar igual aos homens, tinha que sempre provar que era boa o suficiente, ou até jogar melhor que eles para ser reconhecida. “Eu virava ‘a menina’ que sabia jogar”. Nas salas de aula, já pegou matérias em que era a única mulher da sala. E quando não era a única, era uma das únicas. “Computação gráfica foi uma delas. Eram raras as matérias que tinham um número parecido de homens e mulheres”.
Durante a pandemia
Nos últimos meses, além dos vídeos no canal, tem aproveitado o tempo em casa para estudar as áreas de desenvolvimento e para passar com a família, a quem admira. “O mundo inteiro deveria conhecer o meu pai. Ele é altruísta, paciente, me ensina todos os dias sobre espiritualidade, sobre se tornar a melhor versão de si e sobre sabedoria. Devo muito do meu aprendizado e evolução a ele”.
Também conta que, em agosto, conseguiu um estágio em uma empresa de tecnologia digital. Tem trabalhado com desenvolvimento na área de programação, como backend – pessoa que atua na parte funcional de uma aplicação, por exemplo, que trabalham nos bastidores, “por trás” de um site. Mas pretende continuar com os vídeos no Youtube, mesmo com o tempo mais curto.