Britney Spears, Gilmore Girls,Tatá Werneck e o dia do repórter
Conheça Thais Borges, a jornalista de 23 anos apaixonada por séries que ganhou um dos mais importantes prêmios do jornalismo brasileiro
Por Rafaela Fleur
Voz animada, jeito extrovertido e um amor incondicional pela cantora Britney Spears. Para completar o pacote, é vi-ci-a-da em séries televisivas. Game of Thrones? Que nada, o coração bate mesmo é por Gilmore Girls. Poderia estar falando de uma adolescente do ensino médio, mas, na verdade, trata-se da jornalista Thais Borges (facilmente confundida com a atriz Tatá Werneck, gêmeas perdidas, talvez?) que aos 23 anos já possui muita história para contar. E ela conta – literalmente, há 4 anos, nas páginas do jornal Correio*.
Formada na Faculdade de Comunicação da UFBA, o TCC da moça – que atende pelo nome de “Guia de Sobrevivência da Adolescente” – diz muito sobre ela. Desde muito nova, Thais costuma relacionar a sua vida pessoal com as narrativas, e foi assim, com o intuito de ajudar outras pessoas do mesmo jeito que ela mesma se ajudou, que nasceu o projeto. Ajudar, aliás, é uma das palavras de ordem da jornalista. “O que eu mais quero é poder mudar a vida das pessoas, mesmo que de forma pequena, através do meu trabalho”. E ela tem conseguido.
Resultado de quatro meses de investigação e publicado em dezembro de 2015 pelo jornal Correio*, a reportagem especial “O Silêncio das Inocentes”, foi idealizado por ela e produzida em parceria com os repórteres Alexandre Lyrio e Clarissa Pacheco. “Deixou de ser um projeto do jornal e passou a ser algo realmente nosso”, declarou.
Com o objetivo de abordar a violência sexual contra as mulheres em Salvador e dar voz a elas, o projeto organizou um “mapa de estupro” e expôs relatos, contados em primeira pessoa pelas vítimas. A repercussão foi enorme e muitos prêmios vieram. Dentre eles, a menção honrosa na 38ª edição do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos – o mais importante de jornalismo e direitos humanos do país. “O sonho de qualquer repórter é ganhar prêmios e ver vidas sendo transformadas através do seu trabalho, afirma ela, em tom de felicidade.
Além do crescimento profissional, Thais afirma que cresceu muito enquanto pessoa também (obviamente não estamos falando da sua estatura, incríveis 1,53) e que é impossível ficar indiferente diante de todas as histórias que ouviu. “Me falaram que mudei durante esses meses, mas eu não tinha me dado conta do quanto”. A paixão que Thais tem pelo que faz é explícita, e para ela, amar é o principal requisito para quem quer seguir a profissão.
Se a fase do vestibular pode ser complicada para muitos jovens, para ela, esta etapa de dúvida nem chegou a acontecer. Na 6° série, após passar por uma unidade inteira se dedicando a produzir um jornalzinho para a escola, Tatá (lembrando que não é a Werneck), percebeu sua verdadeira vocação. Aliás, na verdade, a fizeram perceber. “Minha professora falou para eu desistir de qualquer coisa que eu estivesse pensando em cursar e me mandou fazer jornalismo”, conta ela.
Até onde sabemos o conselho a levou para o caminho certo, ainda que não seja o trajeto mais simples. Para a repórter, fazer jornalismo é um grande desafio, já que a profissão é desvalorizada em muitos aspectos. Ela acredita que só é possível ser jornalista se você ama incondicionalmente o ofício – e sem esperar que ele te ame de volta, brincou.
O principal conselho dela para quem quer seguir a profissão é ser humilde. Lembrar de colocar os pés no chão, querer sempre aprender e nunca achar que já sabe o suficiente, parece ser o mais importante em meio a tanta arrogância presente nas redações. Dar sempre tudo de si também é essencial. “Não espere chegar ao The New York Times, faça o melhor jornalismo que você puder e faça isso hoje”.
As dificuldades existem, mas, segundo ela, vale a pena. “Em um dia estamos vendo corpos e escrevendo sobre tragédias, no outro, estamos tirando fotos com a Ivete Sangalo”. Aliás, ainda que a sua maior vontade no momento fosse estar em Las Vegas para o show da Britney Spears, Thais parecia estar muito feliz porque ia ver a Ivete. Acho que é coisa de repórter. Nem sempre é como queremos, mas o amor que temos pela coisa torna quase tudo (o ‘quase’ se deve aos corpos), muito prazeroso.
Para nós, repórteres, desejo toda sorte do mundo. E mais tempo para cumprir os deadlines.